segunda-feira, abril 30, 2007

.
Today I am



a small blue thing
like a marble, or an eye



With my knees against my mouth
I am perfectly round
I am watching you

I am cold against your skin
You are perfectly reflected
I am lost inside your pocket
I am lost against
Your fingers

I am falling down the stairs
I am skipping on the sidewalk
I am thrown against the sky
I am raining down in pieces
I am scattering like light
Scattering like light
Scattering like light

Today I am
A small blue thing
Made of china
Made of glass

I am cool and smooth and curious
I never blink
I am turning in your hand
Turning in your hand
Small blue thing
S. Vega
.

quinta-feira, abril 26, 2007

.
A Salvação tem o tempo de um sorriso onde vive a Eternidade

Saiu deixando os amigos a divertirem-se, precisava apanhar ar, retirar-se por algum tempo.
Chovia, o ar lá fora era fresco, o Céu corria.
Soube-lhe bem pendurar-se no parapeito, amparou as gotas da chuva na face e fechou os olhos.
Quando os abriu de novo pensou que não pertencia àquele momento, estava deslocada, longe, inquieta.
Ficou por ali um pouco, encostada no nada.
Voltou-se para regressar para dentro, para junto dos seus, não tinha vontade de o fazer, estava atordoada, o coração mais acelerado que o normal. Era normal.
- Espera!
E uma mão agarrou a sua com convicção, o gesto fê-la voltar-se, conhecia-o.
- Pareces perdida. Espera..
E sorriu-lhe, na aproximação.
- Perdida? Não... acho que não. Vim apenas apanhar ar.
E sorriu-lhe.
As palavras dele deixaram-na triste, baixou o olhar.
Mas depois, e num repente, a sinceridade urgia, quis dizer-lhe a verdade. Mal se haviam cruzado antes. Eram estranhos.
- Só. Viste-me só. Foi isso...
Ele fixou-a como se surpreendido e desviou o olhar, na direcção do chão seguiram os seus olhos. Não estava. Nada disse.
E sorriu-lhe de novo.
Ela sorriu-lhe de novo.
.

segunda-feira, abril 23, 2007

.
Obra-prima


“Da magnífica residência dos Sackville-West, o castelo de Knole, Virginia faz a moldura da sua biografia fantástica; de Vita, herdeira de uma das maiores famílias de Inglaterra, o modelo do seu herói. Homem e depois mulher, mas sobretudo homem e mulher, Orlando poderia ter saído com todas as suas armas do cérebro do Aristófanes do Banquete (…) Virginia Woolf não se sente apenas tentada pela originalidade antropológica de Orlando. O que a interessa no personagem é a inumerável variedade de combinações possíveis que permite a ausência das obrigações humanas habituais. (…) Tesoureiro ou embaixador, perseguidor de raparigas ou musa de espíritos apaixonados pela beleza, melancólico ou exaltado, trocando as calças pelas saias ou refugiando-se na sua tebaida de campo para escrever o seu poema, a sua natureza dupla presenteia-o não com duas nem com dez, mas com cem vidas diferentes.” Monique Nathan, em Virginia Woolf
Relógio D'Água Editores
.

quarta-feira, abril 18, 2007

.
Uma carta para ti

No início, foi um fraquinho por ti. A primeira entrevista, todas as outras que se seguiram. O documentário. Depois, o palpitar do meu coração perante a frase lançada qual flecha de cupido que não vê, mas.. pim! atingida inesperada e inequívocamente.
Li-te e não consegui ler-te. Não sei porquê. Ou não sei explicar-te o porquê, se não sei como argumentar a minha desistência perante a dificuldade em ler-te. Os teus livros, apenas. Acompanhei levemente a tua vida, mais ou menos a par do que ias fazendo. Fui ver-te duas vezes, ouvir-te falar. Comovem-me as tuas palavras ditas. A tua voz. Há uma suavidade inviolável, sublime, no tom da tua voz, de vez em quando...foi isso. Foi apenas isso, foi tudo nisso.
Também me desesperam algumas palavras tuas, pesadas e despropositadas, algumas palavras tuas. Mas admiro-te. Aprendi a escutar-te, sei ler-te nas entrelinhas. Leio-te na pessoa, não no escritor de romances. Poderei fazê-lo, assim, quase levianamente?
São enternecedoras quase todas as tuas crónicas. Li algumas das cartas que escreveste em África, na guerra, para a tua mulher. Cartas de amor, são ridículas, dizia o poeta. E quem as não tem? Quem nunca as escreveu? Gostei de ler-te no auge da paixão. Achei graça. Apeteceu-me passar os meus dedos pelos teus cabelos, e fazer-te uma careta brincalhona, se fossemos amigos.
Numa tarde faltei no emprego, para te ir ver pela primeira vez. Não por seres famoso, não por escreveres livros que te deram notoriedade mundial - se eu não consigo ler-te neles?, mas queria ver-te de perto. Escutar a tua voz. Cheguei atrasada, não havia lugares próximos da mesa onde estavas sentado, ainda espectador de nós. Sentei-me nas escadas. Ali fiquei até ao fim do tempo que nos deste, no incómodo da minha posição, a mão amparando-me o queixo e os dedos a esconderem os meus lábios que desenhavam um sorriso tímido. Foi quando me apaixonei.
Mais tarde, voltaste. E eu voltei a repetir a falta no emprego, desculpa mal amanhada, quis ver-te e ouvir-te de novo. Desta vez era uma coisa mais solene e vistosa, um congresso internacional dedicado à tua pessoa. Foi aí que senti a primeira picada, o primeiro senão. Mas a minha paixão já era amor e o amor persiste. Não é?
Foste arrogante e presumido. Verdadeiro.
[ainda que todas as rosas tenham espinhos, continuam a ser belas]
Foste amor e generosidade. Vislumbrei o romantismo escondido, que eu ainda não apreendera, estava nas tuas palavras, ali. A doçura inteligente na capacidade de expores a tua humanidade, sem pudor, ainda que pareça lá estar. O meu amor cresceu.
Em tempos, embaraçava-me a possibilidade de me dizer apaixonada por ti, sem cair no rídiculo. Não faz sentido esconder um amor platónico. Estranha, esta tendência de tudo compartimentarmos de forma estanque, como se o amor não contivesse em si, mil possibilidades...
Eu não era tua fã, não o sou hoje, encantei-me pela tua pessoa, pública, é certo, mas que relevância tem um detalhe em que a única coisa que interessa, a única válida, está na possibilidade de ter-te conhecido. Vi-te, escutei-te, li-te, sem os livros, apaixonei-me. Brinco com isto, revelo-o a alguns amigos, e sei que não me levam a sério, ainda bem.
Mas hoje quero escrever-te estas palavras, são para ti, não sei o valor delas, sequer se são ridículas, talvez o sejam, como todas as cartas de amor, mas desejava oferecer-tas, o meu inócuo segredo. Precisava mimar-te, depois de te ter lido, esta última vez.

Évora, 17 de Abril de 2007
.

terça-feira, abril 17, 2007


Actual


Revi ontem La Haine, de Mathieu Kassovitz. Muito actual, este filme. Muito bom.
Um murro no estômago, daqueles que fazem falta de vez em quando e não sou muito masoquista. Mas o cinema tem este dom de fazer da realidade grande ficção, quando, quem dirige as tropas, sabe mostrar desta forma as entrelinhas do real.
.

sexta-feira, abril 13, 2007

A porta
 
Saíste do prédio batendo com a porta, suavemente, como se assim evitasses que te escutassem, o teu bater e surgisse de repente alguém a implicar contigo. Olhaste em redor, desconfiada, o caminho livre, não havia perigo à vista, podias ir à tua vida. Seguiste pela rua baixando a cabeça, discretamente, mas às vezes é pior a emenda e num instante a ergueste de novo, veio-te a imagem dos caloiros, a tua imagem de quando caloira, a baixar a cabeça perante nada, ou coisa que o valha. Continuaste de cabeça agora erguida, sem orgulhos, sem nariz empinado, um discreto sorriso a disfarçar o medo, medo de quê?, e afinal nem era bem medo, era só um medo assim-assim, e viraste na esquina, nova rua acima, um homem estranhamente vermelho, não corado, vermelho, fixava o olhar nos dois telemóveis que segurava nas mãos, parecia não estar ali, sentado nas escadas de acesso aos prédios que o amparavam por trás, parecia longe de tudo o que o rodeava, até do ruído, um ar quase cómico, quase. Foste andando com a imagem dele colada à tua curiosidade, a curiosidade de quê?, e as paredes dos prédios que ladeavam o teu caminho eram feias, escrevinhadas com frases indecifráveis, sobrepostas, arabescos de cor desbotada, estas não foram paredes inscritas para serem lidas com atenção, iam sendo desenhadas apenas para efeitos decorativos, brincaste.
A leveza dos teus passos ia crescendo e em breve avistaste a rotunda onde te disseram que deverias chegar, a referência no caminho, o marco que te levaria a mudar de direcção, estavas a ir bem, não havia que enganar, ainda hesitaste alguns segundos, pareceu-te que já avistaras a tal espécie de vale que terias de descer à direita, e quase seguias por ali abaixo, mas não, precipitação tua, mais uma daquelas inconsequentes e recorrentes, normalmente acabavas a rir, e agora sim, estavas já na rotunda e prestes a chegar ao teu destino: o supermercado. O teu destino, deuses!
Uns quantos miúdos brincavam entre dois prédios, outros tantos rapazes mais à frente, e mais velhos, conversavam alto e animadamente, pensaste que iriam dizer-te alguma coisa quando olharam na tua direcção, mas passaste por eles sem os evitar e eles nada disseram, mas também ó miúda, tu não és loiraça nem alta, nada de decotes pronunciados ou finos saltos altos a produzir caminhares bamboleantes, nada disso, estavas distante da maioria das variáveis utilizadas na fórmula do cliché da mulher-com-quem-homens-se-metem-na-rua. E no entanto, sabes inútil e despropositado qualquer cliché, quando todas as mulheres são abordadas nas ruas, das mais diversas formas, por incontáveis motivos. Chegaste ao teu destino sã e salva, nada de assaltos, nada de se meterem com a tua frágil pessoa, neste momento, já lá vão os tempos em que vivias tu no subúrbio e andavas sozinha madrugada dentro, ainda que depois de beberes uns quantos moscatéis a mais, quando indevidamente contabilizadas as consequências desse acto eufórico com que se celebravam as sextas e os sábados à noite no Barreiro Velho da tua adolescência, no meio dos amigos, e apesar de tudo, e de estares a armar em suburbana valente, o que é certo é que só te perdeste deles e partiste - pela noite sombria daquela cidade feia habitada por gente bonita – uma única vez, que te lembres. Bom, e ali estavas tu, com receio de seres incomodada porque atravessavas um bairro ‘complicado’, um subúrbio cinzento da Grande Cidade, onde as casas são muito mais baratas que em outros sítios à beira mar plantados e os rapazes que passam droga na esquina têm navalhas nos bolsos e um brilho estranho no olhar e te assustam. Bom, ali estavas tu, que agora vives no campo e também agora tens medo de coisas, que coisas? que não te assustaram durante anos e anos, a entenderes que os preconceitos se perdem durante uma vida inteira, mas também se colam à pele sem aviso prévio de atracagem, e se vão instalando sub-repticiamente sem que deles dês conta senão quando se lembram de aparecer na forma de receios infundados, na maioria das vezes que aparecem.
Voltaste para a casa sem sobressalto, sem obstáculos a ultrapassar senão a curta distância que separou a porta que tinhas batido suavemente, e o ponto de destino a que te propuseras.
Abstraída no caminho, ficou-te a cor da pele do homem sentado nas escadas perto da paragem do autocarro, um misto de tristeza com ironia espreitou à janela da tua alma, fora pela expressão dele que baixaras o olhar, súbita e precipitadamente, como se estivesses a roubar aquele momento de privacidade entre ele e os telemóveis, a interferir no namoro entre ele e as ondas invisíveis que dali partiam, para qualquer lado do mundo, e isso te embaraçasse. Quando regressaste à casa, passaste de novo por ele, sentado no mesmo sítio, cara muito vermelha, fixava os dois telemóveis sem pestanejar.
Depois, quase no fim, surpreendida, sim, não te pareceu logo que o fosses, mas assim aconteceu quando se cruza no teu caminho um senhor cuja idade indefinida é aquela em que não se consegue perceber se a pessoa é idosa, ou se ainda não o é, estava muito bem vestido, o senhor, era bonito, ‘beleza colonial’ pensaste (riste da tua própria parvoíce), lembrou-te a África que não conheces, a África que reconheces e sabe bem. Imaginaste-o em tertúlias de amigos na Ilha, fins de tarde amenos no alpendre do café com chão de madeira, uma luz breve de sabor a mar entrava pelas janelas baixas, sorria. “Muito boa tarde” – ligeiro aceno de cabeça - dissera ao passar por ti, um cumprimento educado de tão sentido, “muito boa tarde” dissera ele e tu só te apercebeste que era mesmo para ti quando já ele tinha passado o teu alcance de visão, quando já tinhas perdido aquela fracção de segundo em que responder-lhe com a mesma educação e porte já não seria possível, e ainda assim, e também por isso, tentaste reparar a tua falta com um “boa tarde” soprado para trás timidamente. 

Ganhaste o dia. Sorrias. Deixaste a porta deslizar livremente, no teu regresso.


Évora, Abril de 2007

segunda-feira, abril 09, 2007

.



Ciclo Paul Bowles - NEXT TO NOTHING Exposição de Fotografia de Daniel Blaufuks
«Um Abrigo na Terra» é o título deste ciclo que se prolonga até ao fim do mês com diversos eventos evocadores da obra deste autor mais conhecido como escritor de romances e contos, mas com vasta obra de composição para piano, voz e orquestra. A obra multifacetada de um autor que ocupa lugar de destaque na literatura norte-americana do século passado, e a colecção de fotografias tiradas por Daniel Blaufuks na casa de Paul Bowles em Tânger, levaram o Centro Cultural de Belém a fazer a evocação com este ciclo.Em 1947, Paul Bowles esteve na Europa para estudar composição com Aaron Copland, com o qual, no mesmo ano, visitou Tânger. Copland regressou a Paris mas o escritor norte-americano acabou por ficar naquela cidade do Norte de África até à sua morte, em 1999. "The Sheltering Sky/O Céu que nos protege", adaptado ao cinema por Bernardo Bertolucci em "Um chá no deserto", e "Let it come down/Deixai a chuva cair", são alguns romances da sua autoria. Em Marrocos foi visitado por muitos dos escritores conotados com o movimento da "beat generation", foi responsável por ter inscrito o país no itinerário obrigatório dos intelectuais vanguardistas norte-americanos e revelou algumas das formas mais interessantes da música local. Entre esses grupos contam-se os The Master Musicians of Jajouka, que actuarão no CCB a encerrar o ciclo, a 31 de Março. A abertura do ciclo assinala a inauguração da Sala de Leitura Jorge de Sena com uma exposição de primeiras edições das suas obras, o lançamento da autobiografia, e a inauguração da exposição de fotografias «Next to Nothing» de Daniel Blaufuks, tiradas em Tânger em 1990 num encontro do fotógrafo português com o escritor.(...).
.
Em 1990 fui a Tânger para me encontrar com Paul Bowles. Os seus livros tinham-me fascinado, mas mais do que isso a sua vida. Compositor e escritor, viajante no seu tempo, alguém que procura. Em sua casa encontrei, acima de tudo, serenidade. Tardes preguiçosas à volta da lareira, apenas interrompidas por algumas visitas diárias, e calmos passeios ao mercado. Mesmo assim, estes não eram tempos pacíficos. Agora, dezasseis anos mais tarde, regressei a essa casa e a essas fotografias. Daniel Blaufuks

quarta-feira, abril 04, 2007

.



e mais logo, a animar o início de mini-férias... Cansei de Ser Sexy para me dar pica!!
.

.



Honor de Cavalleria

De: Albert Serra
Com: Lluís Carbó, Lluís Serrat, Jaume Badia
Andergraun Films ESP, 2006, Cores, 95 min.

Lisboa - Cinema King - 218480808
SALA 3 14h30 / 17h00 / 19h30 / 21h30; 6ª-Sab, 2ª: 24h15


.