segunda-feira, dezembro 27, 2010

eu não queria, mas...

fui ao norte. ver de neve. não vi. estava muito longe de mim, desta vez. fui e voltei e na viagem vinha a pensar em tantas coisas que me apetecia escrever, passaram-me de supetão pelo....pensamento?
ouvi o júlio machado vaz na rádio. é sempre reconfortante ouvi-lo, porque o acho sempre inteligente e tonto ao mesmo tempo, como se não fosse tão interessante como parece ser quando o leio, e isso o deixasse mais próximo de mim. como se fosse possível ser apreciado e gozado ao mesmo tempo. e é. estúpido, eu sei. pensei em dizer qual foi a melhor prenda que recebi, mas depois pensei para quê?, um bilhete para ir sozinha. eu sei que foi do coração, eu sei que adoro a banda, mas o bilhete não foi para dois, porque não há dois. depois, pensei que podia fazer um balanço do ano que acaba, tipo telejornal: o melhor, o pior, o que ficou por fazer, o que me aconteceu de extraordinário, essas coisas. até comecei a pensar 'direitinho', a organizar ideias..."ah, começaste o ano em grande, cheia de boas energias, tão boas tão boas que na Primavera estavas apaixonada pela vida, pelo mundo, por toda a gente que te rodeava, tudo era belo e a Natureza é a perfeição, oh deuses, se é! e andavas tão bem disposta e sorridente que foste "atrair" (oh, sim, porque só foi isso, ele não se apaixonou, caramba!) o único rapaz que não sabia bem o que fazer ainda do coração, do amor, de ti e ainda assim andou à tua volta (quantos dias? semanas? vá, não foi muito tempo, menina) até te apaixonares como se tivesses 15 anos outra vez e fizestes coisas com piada (quem manda telegramas a quem hoje em dia?? vá lá, orgulha-te, ele nunca o recebeu e foi parar ao vizinho, teve piada, pá!..) é certo, mas que não imaginavas vir a fazer (foi a parte que soube bem......ok, ok, mentira, houve outras coisas boas) e ainda assim, saíste inteira e tiveste o teu grand finale à filme, sim, sabes que sim foste uma senhora e o rapaz, a cara dele, enfim, não andamos todos meio 'perdidos' neste turbilhão?.... também sentiste cedíssimo que não eram tampa e panela que encaixassem, sabias bem o que ele 'tinha', contudo, desta vez deu até para racionalizar porque foi tão evidente, não é todos os dias que conheces alguém que faz da sua vida quase tudo o que quer e lhe apetece ainda que com as devidas contingências, como toda a gente....o rapaz andava 'ao sabor do vento', ainda assim planeando, uma coisa meio paradoxal e por isso interessante, e sabendo perfeitamente que, acima de tudo já não fazia mais o que não lhe apetecia, o que o acorrentara a uma vida das 9h às 5h, era livre para se dedicar à sua paixão e dela viver, mal, é certo, queixou-se ele também mas bolas!, estiveram próximos o suficiente para provares um bocadinho do sabor da liberdade, oh quem foi atraída foste tu, sua pateta.....mas isso não é amor minha querida, não foi amor, como bem sabes. 
lá veio o Verão, o rapaz foi-se (longe da vista.....ajuda tanto, tanto) e tu foste voltando ao teu estado normal, já comias e dormias bem e aos poucos voltavas a sorrir de novo...foste avisada, e quem te avisa teu amigo é: "estavas tão bem antes de o conheceres, estavas com tão boa energia que até se pegava! podias ter o mundo aos teus pés.." exagerou deveras a amiga, a ver se eu voltava ao "estado inicial"... esse era o estado em que me encontrava depois do Natal que passei com neve (nunca tinha sentido neve cair-me em cima, nunca tinha estado com tanta neve à volta de mim, tanto branco e silêncio e os montes e campo só para mim) que me trouxe forças não sei de onde e uma boa disposição, um bom humor que andei o resto do ano - leia-se desde o Verão - a tentar recuperar, mas as coisas não são assim, não são como queremos e estas merdas abalam-nos, deixam-nos tristes e melancólicas e paradotas. e há coisas que se sentem, que se têem.. ou não. não se forçam. e sabes isso tão bem, tu que não gostas de forçar, de conquistar, que esperas sempre que  conquistem esse coraçãozito perdido no mundo dos sonhos... e o mais tonto, é que pode ficar-se assim, mas não pela pessoa em si. senti cedo não ser alguém que se iria sentar ao meu lado e fazer-me uma festa no cabelo e sorrir silenciosamente, carinhosamente diante de um disparate meu...e então de que vale perder a graça por alguém que entrou como um furacão e saiu como um passarinho pela janela (péssima metáfora, mas sou impulsiva e não me saiu melhor, a escrita está a sair a 100km à hora) e até já lá vai tanto tempo e onde já vai essa paixão, e nisto começo a perceber que a paixão de Primavera já não pode ser desculpa, o balanço que não queria fazer é este, não há cá mais desculpas, não há que fugir à verdade, os amores ficaram ex-aequeo, isto aqui é outra coisa, esta melancolia toda que nem a imposta ída de novo aos montes desta vez sem neve curou, isto tem um nome: chama-se o trabalho. o trabalho. o trabalho. este trabalho, este trabalho, este trabalho. são 10 anos disto. estou numa fase má. mas o mundo quase todo está numa fase má. e no fundo, o rapazinho representou o quê? aquilo que não tenho, aquilo que não sei como ter, aquilo que sonhava ser: livre. alguma liberdade.
este foi o ano em que percebi a força da minha prisão, o que ela representa e o quanto me pode magoar. 
eu não queria balanços, mas....foi mais forte do que eu. 
e não vale a pena pensar nas 'soluções' (já alguns amigos, carinhosamente, me as 'deram', me as tentaram mostrar, as quiseram subtilmente indicar, sobretudo essa minha querida amiga agora emigrante, ah, não fossem os amigos..) não vale a pena, não é por aí, sei bem que quando se está mal há sempre uma solução: muda-se! mas não é isso, isto é uma coisa existencial e tem que bater e tem que doer e tem que deixar marca, está visto, porque eu sei que isto vai soar a coisa estúpida, e é, a vida também é estúpida, não é só bela é uma bela merda por vezes, mas isto é mesmo idiota, a verdade é que me sinto mais viva do que alguma vez me senti, sinto-me mais próxima de qualquer coisa que não sei bem explicar o que é, como se me fosse apercebendo de que esta melancolia não é necessariamente uma coisa má, da qual ter medo ou ter vergonha, porque eu sou assim e sempre fui e quem me conhece há anos também me conhece a alegria, mas as coisas mudam, e a tristeza  (ou desilusão?) - coisa diferente da infelicidade - também me faz ser mais humana, ficar mais próxima do que vejo e me rodeia, que a pena de mim às vezes me faz perceber o quanto o mundo gira demasiado à volta do nosso umbigo e para quê? se o bom mesmo era aprender aos poucos a dar o meu tempo, mas dá-lo mesmo, as minhas mãos e o que posso fazer com elas, o meu sorriso a alguém, a alguém, a algo, a alguma coisa, o meu coração a quem gostasse dele, o meu amor a quem precisasse dele, e não precisamos todos? de amor? e qual é o problema, se o problema está é nas nossas cabeças, nas nossas merdas, nas intolerâncias que nos incutem, que nós mesmos deixamos que cresçam porque as vemos tarde demais, ou nem sequer as vemos. foda-se.
:) e depois....bem, depois aceitar que se calhar isto de se ser humano é uma coisa bastante esquizofrénica e nós passamos metade da vida a fugir a isso e a tentar ter tudo sob controle. and we cannot control it, we can´t control life as it is...
so...let it be. ou como alguém disse, take it as it comes.

sábado, dezembro 18, 2010



palavras magoam
ferem de morte
libertam
e harmonizam

especiaria da minha vida
a amizade
rara, cara, secreta, bela

redenção



do amor, não sei
do amor não sei nada, talvez nunca tenha sabido coisa alguma
sei apenas
de uma cadeira de baloiço onde me sento e vejo o céu, as árvores, o mar lento
aguardo na brisa amena do entardecer
é isto que sei do amor

se a vida se esqueceu de me ensinar a morte
e a alguém ouvi dizer "não sabemos"
restam-me lágrimas
quando ma anunciam

e são lágrimas, amiga
no fim das palavras
tuas, depois das minhas  
atiradas como se não fossem balas 
são lágrimas que me abandonam e libertam

contrição



é deste líquido interior que sou
com passagem marcada e sem paragem
pelo meu coração de fibra e alma talhado
toda eu nele
e a quem amo em mim


sei da festa, da dança, conheço-lhes as cores
a magia, os sorrisos que me levam longe 
daqui, deste lugar
crú 
cinzento repetido insonoro
coma 
em vida de olhos abertos e sós

sei da festa e dos sorrisos
do corpo embalado que se enleva
porque os deuses lhe tocaram piedosos


e sei do mar do amar da dor sei do som da gratidão, do teu olhar
do meu sonhar, da solidão o esquecimento sei do perdão 
sei da cor e do sabor, sei do som e dos pinhais
sei da vida e sei da morte, de tudo sei que tudo é sorte
ou sorte sem 
de tudo ou nada e de ninguém
sei de mim de ti assim
sei de nós, não sei se sim
mas sei que tudo é sem saber
o amor eterno de viver.


terça-feira, dezembro 14, 2010

regresso ao passado

terça-feira, dezembro 07, 2010


For one human being to love another; that is perhaps the most difficult of all our tasks, the ultimate, the last test and proof, the work for which all other work is but preparation.

Rainer Maria Rilke


quarta-feira, dezembro 01, 2010

na cozinha

talvez por ser inverno, talvez por ser a minha cozinha. ontem, servido um gostoso jantar para quatro.

batatas pequeninas para assar, 6 bifes de frango do campo, 2 molhos de nabiça para uma espécie de esparregado, cogumelos frescos laminados, arroz basmati.

 

o esparregado

cozi os 2 molhos das nabiças cortadas em tiras finas, escorri bem a água, juntei num wok 3 ou 4 dentes de alho muito picados ao azeite, mandei para lá as nabiças de novo cortadas para ficarem mais pequeninas e fui mexendo com colher de pau de madeira, ainda uso dessas cá em casa. o esparregado faz-se com pimenta, um pouco de farinha, vinagre, mas optei por deixar apenas a coisa meio salteada, sem acrescentar mais nada.

 
o frango

temperei os bifes de frango com muito açafrão das índias, 6 ou 7 dentes de alho picados, sal, e vinho verde. depois de marinar 20 m - não houve tempo para mais - fritei os lombos em cebola cortada em meias rodelas muito finas e uns grãos de cravinho. não ficaram muito tempo ao lume. 

 
os cogumelos

aproveitei o resto da gordura do frango, acrescentei azeite, manteiga e sal. salteados foram os cogumelos, sem mais. o sabor do açafrão e do cravinho entranhou-se subtilmente nesta mistura.


o arroz

cozer em muita água o arroz após lavagem (lavar sempre o arroz, seja para o que  for, disse-me a minha querida D. Rosa, a melhor cozinheira do mundo, nascida em Goa e perita em arrozes..) e juntar-lhe uma noz de manteiga. 10 a 12 m chegam e sobram. tem de ficar solto, no ponto.


as batatas

lavei com água quente as batatinhas que se compram já para assar em sacos pequenos, cortei em rodelas grossas com a casca e fritei-as em azeite, como a minha avó Lina (de Umbelina, quis a sorte..) sempre fez. se cá tivesse, tinha acrescentado tomilho, como vi ao Sá Pessoa fazer no domingo passado, algures aqui.

servi com tinto  bonzinho e alentejano (what else?), acessível: Vale do Rico Homem, para começar e para mim o melhor, depois uma de Marquês de Borba e outra de Terras de Juromenha, estes oferecidos pelos convidados (sobrou uma que fica para o próximo) como manda a tradição. para sobremesa fizeram eles, fondue de fruta em chocolate.

depois do dia triste que tive - o médico confirmou a hérnia e percebi o que implica em termos de exercício e actividades que fazia, que ainda queria vir a fazer e não posso, realmente triste fiquei quando saí do gabinete, o que se veio a traduzir em choradeira lá no trabalho - valham-nos os amigos próximos, para nos confortar. 

bon appetit  !