quinta-feira, março 29, 2007
Fé
Um mundo com tempo para nos dar tempo
Um mundo com humanidade para nos tornar humanos
Um mundo com justiça para nos dar esperança
Um mundo com honestidade para nos respeitar
Um mundo com muitos mundos para nos ensinar
Um mundo sem filhos da puta porque não consigo aceitar.
Um mundo virado do avesso que somos a precisar.
quinta-feira, março 22, 2007
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Por onde começo?
Como te conheço?
Foi nossa a proximidade presente
Na naturalidade das coisas que são.
Aprendo e sorvo mais um pedaço.
O meu puzzle ainda não é, e quando será?, a soma de todos os pedaços que me revelam.
Apaixonei-me por quase tudo, hoje, de novo.
O livro pequeno demais, na forma insólita que o distingue no meio dos outros, adornado em tinta vermelha.
Chegaste e a dança começou. Falaste. Leste. Sorriste.
Como estavas diferente daquela vez. Rígido e tímido, como se não.
Hoje as palavras soltas, com a leveza dos sorrisos que denunciaram o teu humor, rimo-nos contigo.
Os teus olhos mal cruzavam os nossos, daquela vez.
Hoje eras simpático, feliz. Enleva-me o vosso amor, o teu, que perdura e nos deleita pelo olhar que é doce, também.
Está na passagem do tempo pelo corpo que escreve.
Reconheceste-me. É simples reconhecer rostos. Eu quase não te reconhecia. Até vislumbrar-te no olhar, na pose, um fantasma, uma sombra da primeira vez...dissipou-se na honestidade, na leveza tímida das palavras sinceras que nos deste.
Deliciei-me no sabor da leitura dos teus poemas [alguns, escritos para nós] espalhado no éter. Ainda bem que estás à procura. Ainda bem que continuas.
E depois tive de te perguntar. E tiveste de me responder.
[apreendo como se fosse lançada nas águas calmas de um lago pela primeira vez, onde não nos afogamos, onde nos mantemos à tona, sem drama. apreendo isso tudo porque esteve sempre em mim.]
"O peso de cada palavra, quando são tão poucas as palavras que se econtram num verso que é curto, no poema finito e breve - o peso que cada uma tem, como é importante a sua eleição..."
Assustei-me. Acobardei-me. Tive medo.
Depois o teu olhar semi-louco que encontrei no fim do riso, a melancolia das coisas sentidas e que não nos abandona mais, disse-me que não era preciso ter medo.
Depois do livro folheado, depois de mais um poeta descoberto, depois de nos sentarmos contigo, depois de te escutarmos, depois de nos dizeres tudo, depois da simplicidade que embelezou os teus segredos, depois de leres para nós, depois dos interregnos, do ruído, depois da atenção, depois de congelarmos os gestos e os sons, depois dos rebuçados de magia, depois da ingenuidade paradoxal, depois de olhar para o rapaz da camisola vermelha sentado em frente à rapariga-mistério-bela-silenciosa, depois dos embaraços, depois da Margarida nos embalar na gravidade serena da sua voz inteligente, depois da espera até chegar mais perto de ti e falarmos os dois.
Depois escreveste no papel, sorriste, o aviso. Depois o silêncio na cordialidade simpática, o dever a par da curiosidade simples na conversa leve. Depois era tempo que se fazia tarde.
Por onde começo?
Pela "casa de palavras que, um dia, acabarás de ler. Que as palavras te sejam brandas".
Por onde te deixei ficar, a meio do fim.
Como te conheço?
Nas "páginas de homens e mulheres da terra,
de anjos e demónios do céu".
Nas palavras que os meus olhos decidiram que serão poemas, as tuas.
Como posso acabar?
Na sorte do papel esquecido, um poema para ser lido?
Guardei-o para me guardar.
Como posso senão acabar
Na ternura das coisas mais simples,
Que os meus olhos encontram rendidos.
E amar.
Por onde começo?
Como te conheço?
Foi nossa a proximidade presente
Na naturalidade das coisas que são.
Aprendo e sorvo mais um pedaço.
O meu puzzle ainda não é, e quando será?, a soma de todos os pedaços que me revelam.
Apaixonei-me por quase tudo, hoje, de novo.
O livro pequeno demais, na forma insólita que o distingue no meio dos outros, adornado em tinta vermelha.
Chegaste e a dança começou. Falaste. Leste. Sorriste.
Como estavas diferente daquela vez. Rígido e tímido, como se não.
Hoje as palavras soltas, com a leveza dos sorrisos que denunciaram o teu humor, rimo-nos contigo.
Os teus olhos mal cruzavam os nossos, daquela vez.
Hoje eras simpático, feliz. Enleva-me o vosso amor, o teu, que perdura e nos deleita pelo olhar que é doce, também.
Está na passagem do tempo pelo corpo que escreve.
Reconheceste-me. É simples reconhecer rostos. Eu quase não te reconhecia. Até vislumbrar-te no olhar, na pose, um fantasma, uma sombra da primeira vez...dissipou-se na honestidade, na leveza tímida das palavras sinceras que nos deste.
Deliciei-me no sabor da leitura dos teus poemas [alguns, escritos para nós] espalhado no éter. Ainda bem que estás à procura. Ainda bem que continuas.
E depois tive de te perguntar. E tiveste de me responder.
[apreendo como se fosse lançada nas águas calmas de um lago pela primeira vez, onde não nos afogamos, onde nos mantemos à tona, sem drama. apreendo isso tudo porque esteve sempre em mim.]
"O peso de cada palavra, quando são tão poucas as palavras que se econtram num verso que é curto, no poema finito e breve - o peso que cada uma tem, como é importante a sua eleição..."
Assustei-me. Acobardei-me. Tive medo.
Depois o teu olhar semi-louco que encontrei no fim do riso, a melancolia das coisas sentidas e que não nos abandona mais, disse-me que não era preciso ter medo.
Depois do livro folheado, depois de mais um poeta descoberto, depois de nos sentarmos contigo, depois de te escutarmos, depois de nos dizeres tudo, depois da simplicidade que embelezou os teus segredos, depois de leres para nós, depois dos interregnos, do ruído, depois da atenção, depois de congelarmos os gestos e os sons, depois dos rebuçados de magia, depois da ingenuidade paradoxal, depois de olhar para o rapaz da camisola vermelha sentado em frente à rapariga-mistério-bela-silenciosa, depois dos embaraços, depois da Margarida nos embalar na gravidade serena da sua voz inteligente, depois da espera até chegar mais perto de ti e falarmos os dois.
Depois escreveste no papel, sorriste, o aviso. Depois o silêncio na cordialidade simpática, o dever a par da curiosidade simples na conversa leve. Depois era tempo que se fazia tarde.
Por onde começo?
Pela "casa de palavras que, um dia, acabarás de ler. Que as palavras te sejam brandas".
Por onde te deixei ficar, a meio do fim.
Como te conheço?
Nas "páginas de homens e mulheres da terra,
de anjos e demónios do céu".
Nas palavras que os meus olhos decidiram que serão poemas, as tuas.
Como posso acabar?
Na sorte do papel esquecido, um poema para ser lido?
Guardei-o para me guardar.
Como posso senão acabar
Na ternura das coisas mais simples,
Que os meus olhos encontram rendidos.
E amar.
Évora, 21.03.2007
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segunda-feira, março 19, 2007
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Um dia
Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.
O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.
Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.
Sophia de Mello Breyner Andresen
(para LR)
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Um dia
Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.
O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.
Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.
Sophia de Mello Breyner Andresen
(para LR)
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quinta-feira, março 15, 2007
quarta-feira, março 14, 2007
segunda-feira, março 12, 2007
.
duas partes
E descobri-te, estavas por detrás de ti mesmo.
E floresceu a luz que transpôs a tua aparência.
Repulsa que afastei de vez.
Um eclipse, ao contrário.
Encontro inócuo, o primeiro.
Sem força de tracção até ao teu lugar, nada.
O reencontro, a surpresa, o brilho.
(na aparência está o engano do preconceito)
Ficámos os dois, conversámos os dois, vi o eclipse invertido, soube-me bem respirar este novo ar.
Estava na tua atenção generosa, quiseste mostrar-me alguma coisa, ali, qualquer coisa importante, aprendi.
Estranho como se aprende assim, em tão pouco tempo partilhado.
A tua voz era baixa, suave. O olhar o dos sábios sem ostentação. Raro.
Um encontro em duas partes, só a última me interessa.
Só esta conta.
E ao de leve sopraste-me as tuas palavras, o som embateu no que estava adormecido, inexpugnável.
E revelaste-me.
(inúteis, tanto, as suposições)
Vou guardar a segunda parte, saboreá-la um pouco mais.
Porque invulgares são os eclipses ao contrário no meu firmamento.
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duas partes
E descobri-te, estavas por detrás de ti mesmo.
E floresceu a luz que transpôs a tua aparência.
Repulsa que afastei de vez.
Um eclipse, ao contrário.
Encontro inócuo, o primeiro.
Sem força de tracção até ao teu lugar, nada.
O reencontro, a surpresa, o brilho.
(na aparência está o engano do preconceito)
Ficámos os dois, conversámos os dois, vi o eclipse invertido, soube-me bem respirar este novo ar.
Estava na tua atenção generosa, quiseste mostrar-me alguma coisa, ali, qualquer coisa importante, aprendi.
Estranho como se aprende assim, em tão pouco tempo partilhado.
A tua voz era baixa, suave. O olhar o dos sábios sem ostentação. Raro.
Um encontro em duas partes, só a última me interessa.
Só esta conta.
E ao de leve sopraste-me as tuas palavras, o som embateu no que estava adormecido, inexpugnável.
E revelaste-me.
(inúteis, tanto, as suposições)
Vou guardar a segunda parte, saboreá-la um pouco mais.
Porque invulgares são os eclipses ao contrário no meu firmamento.
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sexta-feira, março 09, 2007
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(deste gostei. gostei bastante até. o filme é muito violento, as personagens são quase todas feias, porcas e más, sente-se o cheiro a sangue em algumas das cenas, uma das minhas actrizes favoritas entra nele, há um enredo de faca e alguidar entre irmãos, não há heróis, ou quase.. deste gostei. e a banda sonora, e as imagens daquela Austrália árida e bela ao mesmo tempo..um mimo.)
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quinta-feira, março 08, 2007
terça-feira, março 06, 2007
segunda-feira, março 05, 2007
antecipação
as almas que abandono tristes
os beijos que não deixei roubar
as palavras que esqueci de dizer
os abraços que não consegui dar
os sonhos que nunca sonhei
as coisas que não quis partilhar
os encontros que não procurei
os amores que não soube amar
os dias que não vivi
as plantas que não cuidei
as horas que apenas fiquei
os sorrisos que não sorri
os amigos a quem desencantei
as paixões que não deixei crescer
os momentos de que me fartei
as viagens que não pude fazer
as canções que não quis escutar
os livros que ficaram por ler
os desejos que não deixei escapar
as mentiras que me ouvi dizer
os gestos que não suportei
a intenção que nunca deixou de o ser
o silêncio que não te dei
os olhares que não quis entender
E o desejo,
o desejo último
E o saber,
esse saber
(do fim)
Salvam-me as folhas dos plátanos,
descem na brisa que me procura.
E eu estarei onde me encontro
com a espuma das ondas,
Na cor do entardecer.
Évora, Março 2007
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sexta-feira, março 02, 2007
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Se a música nos salva da infelicidade, cantar em dueto com outras raças, com outras gentes, a nossa canção, pode salvar-nos das trevas.
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"The introduction into my life of another race, essentially different from mine, in Africa became to me a mysterious expansion of my world. My own voice and song in life there had a second set to it, and grew fuller and richer in the duet."
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in The Shadows on the Grass, Isak Dinesen (Karen Blixen), pp. 4-5, Penguin Books, 1984.
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