bloqueio ao sonho
ainda acho que não é de minha culpa
a culpa de ter um bloqueio ao sonho
enfiei-me à socapa entre a secretária e a cadeira
herdadas do Estado Novo
para trabalhar, dia sim dia sim
até me cansar de vez
para o novo Estado.
ainda acho que não é mea culpa a frase com que devo
inscrever-me porque aqui fui ficando
entalada entre duas coisas inertes
a escrevinhar ofícios inconsequentes
na saturação dos dias infinitos.
não me vem a imaginação e o sonho bloqueado.
a repetição faz parte do meu vocabulário repetitivo e só
coitado. coitado. coitado.
ainda acho que não é minha culpa
a culpa de não procurar fora do sonho
a vida que afinal, teima em ser imaginada...
olha!, afinal vive
e até tens a fotogafia do momento:
tu e ele, em casa, os livros espalhados, fariam dinheiro
não sabes bem como, que interessa
se calhar sim, interessava veres com mais luz
e se vislumbrasses um sonho? que fazes tu?
ainda acho que não é minha esta culpa
não quero passar mal quero só passar,
afinal
sem esforço, sem pesados trabalhos
por aqui.
ainda acho que não é minha a culpa.
ainda
acho que é.
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