quinta-feira, outubro 04, 2007

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Cantaremos

"Cantaremos Adriano" é um disco de homenagem a Adriano Correia de Oliveira, e catorze são as vozes que reinterpretam canções suas. “(…) “Manuel Alegre, um dos seus colaboradores mais próximos em poesia e cumplicidade – são da pena de Alegre “As trovas do vento que passa” e todos os poemas de “O canto e as armas”(1969) – destaca no dvd que integrará também “Adriano Aqui e Agora” que “foi ele o primeiro a cantar os versos proibidos. Foi o mais corajoso. O primeiro a pôr-se em causa perante o regime”. O homem que fez frente à ditadura e que se entregou de corpo e alma à revolução depois do 25 de Abril é o Adriano que melhor se conhece. (…) Como aponta Henrique Amaro (o radialista director artístico do projecto), ancorando no poema que Manuel Alegre dedicou ao amigo, onde se lê “ Era a tristeza dentro da alegria / era um fundo de festa na amargura”, em Adriano Correia de Oliveira “tudo é feito em dualidade, nada é fixo”. (…) “O Adriano foi o grande amigo do Zeca Afonso. Criaram um estilo novo, que foi o pontapé de saída de uma nova música portuguesa”, destaca Arnaldo Trindade [fundador do Orfeu, a editora onde Adriano gravou toda a sua obra]. “Foi cantor, compositor e letrista e, além disso, trouxe novos valores à editora” (Francisco Fanhais, José Niza, Sérgio Godinho, Fausto). (…) É este Adriano Correia de Oliveira que urge conhecer. O de que Arnaldo Trindade fala nestes termos: “Jacques Brel e Juliette Gréco são ícones que transformaram a música dos seus países, o Adriano e o José Afonso fizeram o mesmo em Portugal”.
(…) Vinte e cinco anos após a sua morte, em Avintes, nos braços da mãe, vítima de hemorragia esofágica (aos 40 anos), os que não o acompanharam no seu tempo vêem dele pouco mais que sombras esbatidas. “ Adriano Aqui e Agora - O Tributo” pretende que as sombras se desvaneçam para que o retrato real se revele. Para que Henrique Amaro não tenha que perguntar a si mesmo: “Num país tão precário de sonho e ambição, como é que se mantém esquecida a obra de Adriano?”.
(…) Não são necessárias comemorações ou homenagens públicas. Basta ouvi-lo. Basta ouvir-lhe a voz e a poesia que canta. Não somos nós que o dizemos, foi o que constataram ou confirmaram aqueles* que participaram em “Adriano Aqui e Agora - O Tributo”. Catorze vozes, às voltas com a música de Adriano Correia de Oliveira, a descobrir para hoje o que hoje esquecemos”.

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[isto são alguns excertos do artigo de Mário Lopes, Público, 28.09.2007]
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*Tim, Cindy Kat, Valete, Miguel Guedes, Vicente Palma, Ana Deus & Dead Combo, Raquel Tavares, Celina da Piedade, Micro Audio Waves, Mazgani, Margarida Pinto, Nuno Prata, Sebastião Antunes e Pedro Laginha.