segunda-feira, janeiro 29, 2007

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Contrariedade

Sonho: a tua afirmação - não sei quem tu eras, não me lembro de ti - deixou-me asfixiada. Ouvi-te, calada, séria, demasiado séria...quando acabaste, e os outros ficaram calados enquanto observavam e os seus olhares confirmavam a tua opinião, eu aproximei-me de ti. Estava chateada, sentia que não era justo, que não era verdade. E eu sabia que não era justo, que não era verdade o que dizias. Era apenas a tua opinião. E quem eras tu - sim, quem julgavas tu que eras para afirmares com aquela convicção a tua verdade? - para rebateres um facto, quando esse facto escapava ao teu conhecimento? Era apenas a tua opinião.
Olhei-te. Foi o olhar mais frio e agressivo que posso ter, que podia ter tido, e disse-te que não concordava contigo. Aproximei-me demasiado da tua face. O meu olhar quase tocava o teu olhar, e cuspi-te a minha fúria. Apenas porque me contrariaste. Apenas porque eu sabia mais coisas do que tu mas não conseguia dizer-tas. Apenas porque me contrariavas, porque não sabias tudo, porque era a tua opinião. Ainda tentei. As palavras sairam-me duras e desastradas. Tinhas-me contrariado, o meu conhecimento de todos os factos. Era para eu te ter contado e explicado tudo, bem explicado, calmamente, observar-te mudar de expressão enquanto o fazia. Ver aparecer-te no rosto, a clarividência que te faltava. Não estavas a par de todos os factos. Mas isso não aconteceu. Não consegui.
"Ele era bom, ele sabia bem o que fazia, o que escrevia, como entendia tudo aquilo para além dos outros, para além do comum dos mortais. Ele interessava-se apaixonadamente". Era o que devia ter dito.
Ele sabia. E eu sabia o que ele sabia, o meu amigo. Mas tu não. [e eu não conseguia explicar-te isto. eu tentei, e fi-lo da forma mais irritante, mais despropositada, mais incoerente e irracional...vencida pela fúria de me teres contrariado]
E ele sabia explicar todas as suas escolhas, e tinha sido tudo bem feito, nada perfeito, nem precisava. Ele era bom naquilo, e tinha corrido bem. Bastava tentar explicar-te pausadamente e sem medo que não aceitasses ou compreendesses a minha explicação, os meus argumentos. Talvez fosse o suficiente.

E de repente, afastei-me de mim e olhei-me. Ali, encostada a ti, de frente para ti (mas quem eras tu? a tua cara não era importante, eras apenas alguém a contrariar-me), como se quisesse engolir-te inteiro com a minha fúria. E fiquei perplexa, chocada, quase. Percebi. Claramente, percebi.
E tu não tinhas culpa, e eu não tinha culpa. Era apenas assim, era claro agora. Entendi tudo.
Invadiu-me uma angústia maior do que eu, maior do que aquilo que eu era. E acordei.

Facto: seriam 6 ou 7? Não sei ao certo a idade. Também não importa. Era muito nova. Demasiado nova. Mas era concerteza cedo, demasiado para ser apenas fruto de qualquer condicionamento externo. Correria no sangue?
A discussão familiar foi grande, terrível, na medida dos anos que separavam a minha da tua idade. Não recordo o motivo, não me consigo lembrar. Só recordo a imagem, essa imagem gravada, lembrada sempre.
Fechei-me rapidamente na casa de banho. Furiosa. Orgulhosa e magoada. Fechei-me durante horas na casa de banho e não deixaste ninguém ir lá. Porque raio haveria alguém de ir lá, se eu não podia sobrepôr a minha à tua vontade? Só me restava encurralar-me no forte, trancar-me para que ninguém entrasse, para que não me seguisses. Só podia ficar ali horas e horas para fazer valer a minha posição. E a minha posição só podia ser a de mostrar que não gostava de ser contrariada. Quando me sentia com a razão. O estranho, e engraçado, é que a imagem que guardo na mente é a porta do lado de fora, eu fechada lá dentro. Como se afastada e a olhar para a porta comigo lá dentro, do outro lado. Como se sonhasse e me visse ali e aquilo, aquela imagem, esta imagem, fosse o facto. E o facto é que eu estava lá dentro, fechada, e a única coisa que devia ver era o espaço de dentro, os azulejos, o chão, as loiças, a janela..não sei porque a imagem que guardo é a da porta, do lado de fora.

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quinta-feira, janeiro 25, 2007

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saudade..



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quarta-feira, janeiro 24, 2007

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Transgénicos fora do prato?

O tema de discussão de hoje na RDP Antena 1, é sobre a questão dos produtos transgénicos.
Das participações em linha (biólogos, engenheiros agrícolas, produtores agricultura biológica, políticos, professores..), são praticamente todas unânimes em relação ao facto de esta ser uma matéria sobre a qual há ainda muito poucos estudos sobre os efeitos não só na Natureza, como no ser humano.
Mas levantam-se questões como a da produção de sementes transgénicas ter por trás grandes empresas e interesses económicos vastos; a sua produção levar ao surgimento de sementes resistentes à aplicação de herbicidas - permitem que mais produto seja aplicado, logo, levam a um impacto maior e mais negativo sobre os solos e sobre o ambiente; a questão de estas sementes não poderem voltar a ser 'usadas' (sementes terminator) ou seja, perdem o seu poder germinativo, o que em extremo poderia levar à extinção do processo natural de 'reutilização' das sementes (método milenar e natural, depurado pelo Homem) e consequentemente levar ao aumento da dependência dos agricultores em relação às empresas que colocam as sementes de transgénicos no mercado, ou seja, ao aumento das suas vendas e lucros; a questão da falta de rotulagem nas rações que são dadas aos animais, sabendo-se hoje que 95 % desta produção de transgénicos é canalizada para estas rações e outros produtos sem rotulagem (apesar da resistência dos consumidores nomeadamente na Europa, a estes produtos, a sua produção tem aumentado, para onde vão?) e nem sequer há legislação que obrigue à rotulagem destas rações, o próprio produtor não sabe o que vem dentro do saco...isto leva a que a carne nos supermercados, talhos, etc, também não contenha no seu rótulo, a origem das rações do animal, pelo que não sabemos se estamos a comer carne e até derivados do animal (leite, etc) que acabam por ser alimentados com/conter transgénicos; falou-se da questão da falta de estudos e informação sobre o que acontece a estes animais que são alimentados com transgénicos; há um testemunho que defende a sua utilização e cultura, nomeadamente porque aumenta a produção em 2 a 3 vezes mais que na cultura de sementes normal, precisamente por serem sementes mais resistentes a pragas (contraria de algum modo o testemunho do colega engenheiro agricola que diz que estas sementes são resistentes aos herbicidas, tendo de ser este utilizado em maior quantidade) e que os agricultores têm direito a lucrar com o que produzem, porque a agricultura é neste momento uma indústria; um professor universitário contraria a engenheira zootécnica que afirmava não existir na rotulagem a origem das rações, ao afirmar que estas são rotuladas, sim; enfim...há contrariedade e dúvidas, há falta de informação credível, há pelos visos falta de evidências sobre esta matéria. Mas em caso de dúvida, há a precaução. Se ainda não há certezas - de repente lembro-me (pelo que de humano se revela nesta tendência de nos dividirmos quase sempre em duas facções) da questão do aquecimento global, com os 'cépticos' que afirmam ser um fenómeno normal da Natureza, e os que afirmam ser contribuição da actividade humana, estes em maior número, ainda que em relação a esta matéria as evidências estejam à vista - e se ainda não existem estudos suficientes sobre os efeitos dos transgénicos na nossa cadeia alimentar, ficamos na incerteza. Mas o melhor é precaver-mo-nos. Vou ficar a ponderar como fazê-lo, dentro das minhas possibilidades... Entretanto, pode ser que daqui a 20 anos, descubram que o milho das pipocas e a soja transgénica das rações das vacas, sejam a causa do meu cancro no estômago. Ou não.
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terça-feira, janeiro 23, 2007

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frase

"É muito diferente passar a adolescência a fazer coisas de que se gosta do que andar perdido sem saber do que se gosta"

Paulo Pinto, actor, Artistas Unidos
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sexta-feira, janeiro 19, 2007

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[hoje, deixo espaço para a crónica do meu querido amigo Tomaz, longe de nós há três anos, e que versa sobre esse imenso Rio, do Brasil, na sua forma inspiradora de sentir a realidade. Obrigado Tomaz, por aceitares o meu convite]
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O murmúrio do Setentrião.....ou a estranha latitude do imenso verde dilacerado

Rio de Janeiro, 18 de Janeiro de 2007.

Este é o prenúncio de cada manhã, nesta terra estranha, tão longínqua e em simultâneo, tão próxima de mim.
Sou mais um desses "passarinhos urbanos" que como cantou Chico, "chacoalham no trem da Central". Este comboio, que me leva à viagem infinita das faces e da poesia nelas. Umas vezes poesia triste e outras poesia alegre da existência. A lei de um quotidiano.
Venho de um dos muitos subúrbios de um gigantesco subúrbio, de uma gigante metrópole onde cada vez mais, a alma é um bem tão mais precioso que o corpo e a vida em si. O único bem que nos resta para que o samba da violência não nos retalhe, como a mais um, que virá amanhã nas parangonas do jornal matinal "encontrado pela bala perdida".
Aqui no doce encaixe das verdes montanhas que encontram o mar, nesta terra a quem um dia chamaram "Cidade Maravilhosa", me encontro. Rio de Janeiro.
Todas as manhãs, cruzo-me com essas personagens que são os figurantes do filme que protagonizo. Aquele velho doido que vende os pães e o café numa garrafa "termo" e que com um relógio/termómetro na mão, diz no seu pregão: "Salvé guerreiros da luta, vocês são o coração deste povo...Têm ainda pão....Um real...têm ainda café... São oito da manhã, 27 graus tá marcando". E aquela figura é a imagem desta terra, da bondade e da irmandade entre pares, da loucura sã de procurar a alegria na sobrevivência. Porque aqui todos somos irmãos de miséria e virtude. E todos temos mais o sentido do que é realmente a igualdade.
No comboio, encontro os rostos da Baixada (Baixada Fluminense - área periférica a norte do Rio de Janeiro, um conjunto de cidades e bairros, marcados pela profunda pobreza e violência), encontro aqueles batalhadores de 300 reais/mês (aproximadamente 100 euros), que trabalham sem descanso semanal de Domingo a Domingo, para alimentar a prole numerosa. Aqueles rostos levam um sorriso triste de uma eterna esperança. De uma convicção que Deus é o único amparo.
A morte aqui não é pranteada como aí,...a morte é apenas o fim do inferno em que tantos vivem. E a morte, buscando o fundo antropológico africano, é um renovar de esperança para os que ficam, mais mesmo que a saudade que acaba permanecendo.
Na saída do comboio, na velha Central do Brasil (estação principal de comboios do Rio), fervilha em bulício o movimento da mole humana.
Cada um no seu caminho, cada um no meio dos restantes. Os "camelôs" (vendedores ambulantes) vendem tudo o que se deseje. Vendem carga roubada, contra-feita, sem factura, esperando que os Guardas Municipais ou os seguranças dos comboios, não "façam o rapa" (expressão que significa carga apreendida).
À distância da esquina próxima, aquele carro-patrulha com aqueles vultos cinzentos (a Polícia Militar do Rio usa fardas cinzentas escuras), perscrutando qualquer movimento anormal. Vigiam-nos na sombra, com aquelas armas de assalto temidas. A visão do 7,62 ou do M-16 é incomodativa, mas já habitual (7,62 e M-16 são as armas de assalto usadas pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, de grande alcance e muito poder destrutivo). Os rostos dos polícias, sempre tensos. Aqui, morre-se por se estar vivo. Morre-se das balas dos polícias e das balas dos bandidos. As balas matam igualmente, sem distinção. As balas não matam sozinhas, são disparadas e tantas vezes com tão pouco critério.
A cada espaço intercalado, surgem montanhas, que perdem cada vez mais o verde que as cobria desde o início dos tempos. Hoje, cada vez mais crescem aquelas "colmeias" de tijolos e cimento forçado, a que chamaram um dia de "favelas". Ali, talvez seja onde resta a primária nobreza, o "sangue bom", a raiz e ritmo de um povo. Ali também, é onde a sociedade relegou os seus filhos mais desfavorecidos, para a pobreza, a marginalidade e a violência. São Carlos, Providência, Dendê, Pavão-Pavãozinho, Cantagalo, Rocinha, Vidigal, Juramento, Andarái, Macacos, Kerosene, Rebú, Salgueiro, Mangueira, Tatuí, Congonhas, Acarí, Manguinhos, Jacarézinho, Fubá, Chacrinha, Cidade de Deus....estes são alguns dos nomes da ignominia.
São os nomes onde a vergonha de cada um de nós marca, no passar dos dias, o destino de tantos inocentes.
As favelas, onde esses trabalhadores sobrevivem e lutam sem assistência dos mais elementares serviços básicos - sem saneamento, sem educação, sem justiça, sem pão, sem paz -, onde riem e cantam o seu samba choro do dia-a-dia.
Brutalizados por uma máquina policial, que entende que acantonar estas "pessoas de bem", e vivendo na encruzilhada da sua pobreza, reféns dos soldados do tráfico de droga (que acabam mortos e presos, com nunca mais de 20 anos) e que paradoxalmente acabam sendo os benfeitores da comunidade, pois eles são os únicos que suprem a necessidade de consultas médicas, de obras em casa e transportes das comunidades.
As favelas e seus filhos, no limbo do frágil equilíbrio entre bandos criminosos — um bando ao serviço de uma lei que nunca defendeu os seus cidadãos e outro bando que usa estes "filhos de um deus menor" como escudo, e onde poderosos e ricos acabam sendo os beneficiários de um esquema vil, onde mais pobreza e ignorância garantirão o eterno ciclo de uma sociedade que vive sob o signo da desigualdade "genética".
Os filhos nobres da "favela", estão vetados a ser invisíveis, até ao dia em que em qualquer assalto desesperado,"dura da polícia" (expressão que significa repressão policial arbitrária), ou bala perdida na troca de tiros da invasão à favela, os atire para as páginas dos jornais como corpos banhados em sangue jazendo no asfalto, ou irremediavelmente algemados, a caminho de Bangú (presídio estadual do Rio de Janeiro).
Nas nobres praias da cidade, passeiam-se os que estão na outra amplitude desta insanidade, a obscenidade da riqueza, que os mantém reféns do medo em seus condomínios de altíssimo luxo e carros importados blindados.
A solução segundo alguns, seria aplicar a pena de morte. Eu acho que a única pena de morte que devemos aplicar, é a morte de um sistema que cliva uma sociedade, onde os ricos justificam a sua riqueza desde os tempos coloniais portugueses, com um trabalho escravo desses que vivem nas favelas e em subúrbios podres da Baixada.
Aqui há também o samba, fervilhante, e a sensação de que a "vida é só um dia, mas o Carnaval são três...".
O Rio é a terra fértil de onde esses escravos bantos, trouxeram os batuques e repiques, e onde a harmonia dos nossos cavaquinhos gerou o samba. O samba que se universalizou, mas que se fez e faz de lágrimas e sacrifício, para que aquela alegria "que acaba Quarta-Feira" seja a catarse de tanto sofrimento que se acumula.
O meu subúrbio, Campinho - Madureira, com as suas escolas de samba, a Portela, o Império Serrano e a Tradição, é o berço do samba e da "malandragem" carioca.
É arrepiante sentir como se constrói aquele espectáculo, desde o início...e aqui o samba é coisa muito séria.
"Negra é a tristeza da despedida na avenida" cantava o imortal Cartola, espelhando que é triste o fim do Carnaval, quando a Avenida Sapucaí, onde fica o Sambódromo, se fecha e diz um "até breve" com um ano de interregno. E o ciclo repete-se e repetir-se-á.
O Rio é também, a cidade onde aquele esplendor colonial se reflecte de maneira soberba. A obra portuguesa nesta cidade, é maravilhosa. E as igrejas e monumentos emprestam a solenidade que só as grandes cidades podem ter.
Ali, onde descobrimos as razões de uma cidade maravilhosa, quando o sol nasce na baía da Guanabara juntinho ao Pão de Açucar, ou quando o Cristo Redentor, abraça toda a gigante cidade lá desde o alto do Corcovado. Sou particularmente apaixonado, por essa parte da cidade, o Cosme Velho, as Laranjeiras e o muito romântico Largo do Machado, memória espacial viva do lugar de predilecção do grande Machado de Assis.
O Rio é o futebol e aquele imortal Maraca (estádio Maracanã), onde os deuses do futebol marcaram tantos momentos para a posteridade.
Onde o "anjo das pernas tortas", o grande Mané Garrincha, driblou a própria vida, acabando andrajoso e alcoólico, como alguém que desafiou os deuses com o seu talento. Onde milhões de brasileiros, choraram em 1950, a amarga derrota para o Uruguai. Onde Zico, no seu jeito "galinho", encantou. Onde Pelé, fez um golo que tem uma placa que assinala o momento único desse mesmo golo.
O Rio é a terra, onde em qualquer rua, crianças jogam descalças e soltam papagaios de papel, que aqui se chamam "pipas".
O Rio é seguramente, o melhor e o pior lugar de viver, porque a nostalgia e o presente, são dois tempos diferentes e inconciliáveis e quando se perderem os últimos motivos para que o "canto carioca" se solte, aqui o inferno estará à mesma distância do paraíso. Este lindo paraíso......

Um abraço e saudades enormes do meu país, da minha gente, de todos os meus lusitanos amores.

João Tomaz Rodrigues

quinta-feira, janeiro 18, 2007

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O que é a vida?

O poeta grego que comparou o homem às folhas que não duram,
quando o inverno lhes roubou a esperança de viver de acordo com
os seus desejos, não saiu esta tarde para o campo, nem viu o
corpo que se interpôs entre o sol e os arbustos, ofuscando
o céu com a sua brancura de nuvem primaveril. Perguntou,
no entanto, de que serve a vida, e para que serve a alegria,
se não existe, para além delas, o horizonte dourado do amor;
e afastou da sua frente o crepúsculo, dizendo que preferia
a madrugada, logo que o galo canta, para despertar com
o próprio dia. Esse poeta, que o pó dos séculos sepultou,
e não chegou a encontrar qualquer resposta para as suas
dúvidas, aconselhou os que o liam a que se divertissem,
antes que a morte os surpreendesse. E lembro-me, por
vezes, deste pedido, ao pensar que a memória de alguém
se pode limitar a uma pequena frase, nem que seja a mais
banal das sentenças, que nos vem à cabeça numa ou noutra
circunstância. Então, o poeta grego continua vivo; e esta
tarde, por trás dos arbustos, ouvi a sua voz no vento que
por instantes soprou, trazendo com a sua frescura o sentimento
que sobrevive a todas as estações de uma vida humana.
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in As Coisas Mais Simples, Núno Júdice, D. Quixote, p. 67
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quarta-feira, janeiro 17, 2007

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WTF??! (II)

estão a gozar com quem?

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terça-feira, janeiro 16, 2007

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quinta-feira, janeiro 11, 2007

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o meu ensaio sobre a intransigência ou como um blog pode substituir o divã
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Há intransigências no ar. Nem sei muito bem identificar alguns dos motivos...ainda. Mas sinto-as como farpas, de vez em quando. E lanço-as, de vez quando, também eu. O que me perturba é a possibilidade de as mesmas terem uma origem simples e até básica, de explicação fácil: somos com os outros aquilo que somos connosco, não gostamos nem permitimos nos outros aquilo que em nós não está bem? Fico com a dúvida, que isto até a mim me soa a 'receita' de livro de bolso de psicologia para iniciantes, mas não tenho pretensões a aprofundar científicamente certas questões. Fico-me pela intuição, pela observação, pelo sentido crítico baseado nas minhas experiências e constatações, goste-se ou não, quer eu as assuma plenamente ou não - raramente o faço sem receios.
Com isto, corro o risco de soar a certas pessoas que eu mesma por vezes julgo: as que falam de tudo e de nada sem muitas das vezes saberem bem do que falam, e julgadas por aqueles que agem como se para se abrir a boca neste mundo fosse absolutamente necessário decorar uma cartilha de regras-a-cumprir-quando-se-quer-abrir-a-boca-para-se-falar-sobre-determinado-assunto. Ora aqui entra o paradoxo - está-me no sangue, o paradoxo - sobre o qual discorro: quantas vezes não fui julgada por determinada abordagem minha sobre certa matéria, em que me afiguro como uma tonta desmiolada e precipitada, supérfluamente munida de argumentos, e ainda para mais com ar de quem sabe bem o que está a dizer? Imagino que foram algumas...ainda que não por qualquer um. Outras tantas sucederam comigo no papel da julgadora-mor, da que lança a farpa e a piadola escarnecedora, da intolerante. Podia ao menos não o fazer. Pois se me perturba que mo façam, que me julguem facilmente quando digo uma tolice, um despropósito, uma 'verdade' suspeita sobre determinada matéria, quando tiro uma ilação que só podia surgir desta cabeça, quando me aventuro a discorrer sobre as paixões irracionais que me assolam a alma...Mas também eu o faço. Também eu julgo muitos por isto, e também eu não os conheço na sua essência, e não estou munida de todos os apetrechos para entrar dentro de cada uma das minhas 'vítimas' e poder descobrir-lhes um brilho, os desejos, a sabedoria, sim, tudo isto... porque não? Alguns poderão ser mais do que mostram desastradamente, transportar um enorme coração, uma vontade louca de saberem mais e melhor, um raciocínio que afinal pode ter origem insuspeita, está apenas desalinhado e confuso, uma alegria escondida, um amor latente, uma lucidez e uma angústia de quem é permeável ao Tudo e ao Nada, uma intuição que lhes pode dizer que a felicidade se conquista, em cada dia que passa. Porque não?
Coisa de evitar, o julgamento, que também isso se exercita pela vida fora: a tolerância. Mas que é difícil, é. Que é 'escorregadio', é. Estou em crer que absolutamente necessário, no entanto, para se encontrar uma certa paz.
E uma intransigência, com risco de se transformar em julgamento precipitado sobre outrém ou seu comportamento, pode ser uma coisita simples como uma palavra que se ouve e não se gosta, ou porque [achamos] não se adequa ao discurso, ou porque [achamos] não está ali bem colocada, ou [achamos] porque não fazia lá falta...o certo é que não nos agrada, pode gerar repúdio, primeiro, e até chegar ao escárnio, variando consoante a personalidade de cada um. Com este último vejo, inevitavelmente, surgir a arrogância. Mais um risco. Mais uma desnecessidade. E para quê, afinal? E porquê, afinal?
Uma coisa tenho como certa: não há inocentes na matéria, todos, em alguma altura fomos e somos intransigentes e intolerantes, mas não me permito pensar que não vem nenhum 'mal ao Mundo' se afinal de contas, e ainda que no exercício da sua 'humanidade' como ser imperfeito que é, o Homem não reflectir de vez em quando sobre as suas falhas e as suas limitações.
Simplificando: se tu me conhecesses melhor, se calhar em vez de ironia, oferecias-me flores:) E eu a ti dava-te um beijo e um chocolate:)
Chuac!


terça-feira, janeiro 09, 2007

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The good old 80's



não resisti...vi isto e, no contexto em que o vi então...escangalhei-me!! ainda me estou a rir...
rir faz bem
:)

sexta-feira, janeiro 05, 2007

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Energia Positiva e Revolução
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Pois é, de regresso ao trabalho, de regresso ao alentejo.
Uns dias de férias passadas entre Trás-Os-Montes e Lisboa, a comer - muito bem, muito bem, que em Trás-Os-Montes também se come muito bem, e não apenas em quantidade que isso para mim nem é comer 'bem' - e a dormir, a passear, a sornar (sou a pessoa mais preguiçosa que conheço), a ver as vistas, a visitar os nuestros hermanos, depois o regresso a casa da mamã, mais papinha boa, mais sorna, não li muito, só jornais e revistas, fiz comprinhas das boas (cd's e filmes) e menos dinheirinho na conta bancária...viva o consumo, dirão os banqueiros do mundo!Viva.
Entretanto, cá estou de novo a escrever no meu blog, e cheia de inspiração para começar o ano em grande, melhor do que comecei o ano anterior (que foi a trabalhar, muito sisuda e tola como todos os sisudos que stressam com o trabalho, ainda que feito por gosto...) é o que eu quero. Não é o que eu espero, é o que eu desejo. Há uma diferençazita..
Assim que cheguei: inscrição para fazer ginástica! Desta vez foi a sério, já chega de aulas 'experimentais'. E não é que até me cantaram os parabéns?!....Foi estimulante. Sem exercício, também a alma mirra.
Mais decisões? Médicos. Visitar alguns. Há uns aninhos que não o faço, ganhei saudades. À força.
Depois, ler mais. Foi a melhor prenda de Natal, inesperadamente vinda de quem não esperava e de uma forma simpática: A Criação do Mundo, do Miguel Torga, meu conterrâneo. Até fiquei emocionada, aquilo de me terem dado o livro já lido e usado, e daquela forma....foi a melhor prenda. Em troca vou-lhe enviar, ao meu presenteador (se não existe eu depois corrijo), uns cd's.......passámos um serão enfiados numa casa de pedra numa aldeia da qual já nem recordo o nome, no meio dos montes, o que é o mesmo que dizer no 'fim do mundo', esse mágico lugar, a ouvir músicas (Canções!!!) do Adriano Correia de Oliveira, do Zeca, do Sérgio Godinho, do José Mário Branco, uns cantares e músicas tradicionais de recolhas do Giacometti (presumi eu), e ainda me vieram as lágrimas aos olhos ao ler o folheto da caixinha da compilação de 6 cd's do Adriano, e de ler aquele texto magnífico do Manel Alegre, que tempos aqueles caramba!!!
O Verão Quente de 75 recordado pelo meu tio, quando o meu pai teve de me levar em 'férias forçadas', para longe da minha terra natal sob a ameaça de rapto!Hoje rio-me....Os comícios, o dom da palavra do 'Poeta' e pelos vistos cantava também (o que eu me ri, não imagino o meu pai a cantar!), as gentes iradas, os carros em fuga, as peripécias nas aldeias, a tristemente famosa morte do padre Max, as manifestações nas ruas e os defensores do antigo regime atiçados, bem, sempre fui uma atenta ouvinte de boas histórias, e ainda para mais destas, daqueles tempos, em que 'eles' acreditavam que podiam mudar o mundo, e ainda bem...porque mudaram.
Bem, e depois também quero mais paz e boas energias, procurá-las e emaná-las, para aqueles que amo, que gostam de mim, as pessoas mais importantes do meu microcosmos. Aos meus amigos (os de sempre e os novos), que estão sempre comigo ainda que longe, alguns, deixo um enorme abraço, um abraço cá de dentro e sentido, porque sem amigos também não somos grande coisa. Um inesquecívelmente doce e produtivo 2007 para todos!
Para o Mundo, e em particular para os que vivem sem dignidade porque não a podem ter, desejo a utopia de uma Revolução que comece a crescer dentro de cada um de nós, os vivos e pensantes seres deste planeta em perigo. Porque sem sonhar, também não me imagino viver.
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