quinta-feira, abril 09, 2009

I'm your man



A sala estava muito pouco povoada, espectadores novos lado a lado com espectadores menos novos, como me confirmou ter sido assim no concerto de 2008, uma colega a quem enviei o mail: hoje passa um documentário de Leonard Cohen no cineclube vou ao fim da tarde/ vais?/ sim, vou/ encontramo-nos lá então/obrigada por me avisares.

Recebo um beijo forte e demorado na bochecha, depois da sessão, estava grata por lhe ter enviado o mail. Deixou o filho com o marido e pisgou-se para ver “I’m Your Man”, onde cantarolou entusiasmada algumas das canções que encheram o ecrã, sentada na sala renovada, e asséptica do auditório.

Comovi-me quando Antony interpretou uma das eternas canções de Cohen, e com deleite acompanhei o olhar e singularidades do cantor, poeta, monge, filmado sobriamente, depois também me inebriei no fim, com Hallellujah, que me trás sempre à memória Jeff Buckley, a sua morte prematura e estúpida, a saudade do que é belo. As canções de Cohen são de facto belas, de fundo negro, mas iluminadas para nós. E vim para casa com vontade de comprar a discografia toda do homem, de ouvir Antony, mas, acabei por deixar “ a passar” Tudo Bons Rapazes, na rádio.

Sorri do tom desprendido e esgar irónico, quando Cohen desvaloriza a fama de ser “a lady’s man” por não encontrar eco nas dez mil noites passadas sozinho.

Ficou uma imagem de humildade do cantor, e um olhar de sábio sem pressas de viver. Mas aquilo que verdadeiramente me continua a emocionar, é escutá-lo, aquela voz que não é humana de tão intensa e funda, não me desencanta que não “saiba” cantar, delicia-me ouvir aquele tom arrastado, triste, contínuo, as palavras e a poesia, a escrita feita canção, e a voz, por deuses, a voz…

É isto que fica, não é?/ sabes?, só me lembrava da sala da minha amiga onde ouvíamos os vinis (do Cohen) do pai dela, dos encontros e conversas filosóficas, dos problemas de adolescente [sorrisos]/ os nossos olhares cruzam-se, transluzem e felizes estamos na despedida . Sim, é.