domingo, setembro 26, 2010

sexta-feira, setembro 24, 2010

estado líquido

"Bem-vindos ao vosso estado gasoso

Para falar disto a que difusamente chamamos "tempos de incerteza", um importante observador, o sociólgo Zygmunt Bauman, recorre à categoria do estado líquido (por oposição à solidez representada pelos estados de certeza). É como se, de repente, tudo perdesse consistência e se tornasse liquefeito. Os títulos de alguns dos seus livros, parte deles já traduzidos em português, são elucidativos: Modernidade Líquida (2000), Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos (2003), Vida Líquida (2005), Medo Líquido (2006), Tempos Líquidos: viver na idade da incerteza (2007). Bauman explica deste modo o conceito que encontrou para transcrever o que vivemos: « A sociedade moderna líquida é aquela em que as condições de actuação dos seus membros mudam antes que as formas de actuar se consolidem [...] A liquidez da vida e da sociedade alimentam-se e reforçam-se mutuamente. A vida líquida não pode manter o seu rumo durante muito tempo[...] É uma vida temporária e vivida em condições de incerteza constante.» Sintomáticas são também as antinomias que ele utiliza: velocidade e duração; consumação e consumo (« a vida líquida é uma vida devoradora. Olha para o mundo e para todos os seus fragmentos como objectos de consumo»); valor real e valor instrumental («a vida líquida dota o mundo exterior de um valor puramente instrumental»).

O filósofo Yves Michaud continua o diagnóstico de Bauman e descreve a nossa época como um «estado gasoso». Este, defende ele, é o tempo das percepções evaporadas, das atmosferas cada vez mais sem contornos, dos estetismos difusos e globais. Isto corresponde  na cultura à era do entretenimento e da «turistização». As artes e a cultura passaram a definir-se maioritariamente como acontecimento e espectáculo. Assistimos nessa linha ao triunfo das bienais, dos festivais mais diversos, das festas disto e daquilo. As aventuras singulares, o «artesanato» do espírito que ainda persista é remetido para um limbo de indiferença. A febre é a da exaltação das percepções, do multissensorial. O próprio consumo, avisa Michaud, tornar-se-á tendecialmente mais de experiências do que de produtos. The answer is blowin' in the wind? "

in O Hipopótamo de Deus e Outros Textos, José Tolentino Mendonça, pág. 71 e 72, Assírio & Alvim, 2010.

domingo, setembro 19, 2010

bonito

sábado, setembro 18, 2010

eu não sei o que há em Évora

...que lá me vai surpreendendo.
seja porque inesperadamente, espontaneamente (como se estivesse há anos em fase de pré-ebulição aquele momento, aquela primeira palavra de contacto)  se começa a conversar com gente que cruza o nosso caminho há imenso tempo que perdemos a conta e nem uma palavra, apenas um reconhecimento ocular tácito e mudo na partilha dos muros de uma cidade bela, sufocante, misteriosa.
é como quando começamos a perceber que há (sempre) um escondido recanto numa parede de uma casa de uma rua estreita qualquer, um nicho, um rosto de pedra saído da cal branca, uma escada que conduz a uma torre com vista sobre os telhados, a planície, um altar esculpido discretamente no granito, uma janela de peculiar e estranha forma ou um jardim babilónico escondido por detrás de um portão de madeira sempre fechado e naquele dia entreaberto. coisas que nunca antes viramos, e no entanto, por ali passamos há anos. quando se não habita uma grande urbe, (re)descobrir é o verbo.

quarta-feira, setembro 15, 2010

mais perto do paraíso

cheguei à segunda ilha, a do Pico, deixando para trás o porto de Velas, S. Jorge, a tal que ficou por conhecer. no Pico era para "fazer coisas". e fiz. última tarde, já com bilhete comprado para o Faial, mudei de ideias para concretizar uma vontade: subir ao ponto mais alto de Portugal. uma família simpática acolheu-me nessa noite, onde descansei o suficiente para a grande aventura que me aguardava na manhã do dia seguinte. antes disso, ver os golfinhos roazes e os cachalotes (mães e filhos) já me haviam deixado mais perto do paraíso. aqui ficam mais umas imagens:






















































perto do paraíso

umas fotos. o texto virá - completo, sintético - depois. agora apenas deixo isto: vale a pena pararmos no cimo das encostas verdes e vermos o mar enquanto se ouve o mugir das vacas pertinho e o sol  se põe ao longe, para lá da ribeira da ilha das cabras, em cuja praia acabámos de estar, deserta, e onde entrámos no mar, forte e ameno. depois disto, uma certeza: a de que vamos voltar.

1.ª Ilha  (ou Terceira?)