sexta-feira, setembro 22, 2006

Santiago

Do que me lembro mais?
Do sabor do bolo pôdre, de castanho esponjoso. Da torta de laranja, sempre imperfeita e deliciosa. Do bolo das flores, imponente e majestoso, de uma massa invulgar a derreter-se-me na boca. Dos filmes da Esther Wiiliams, sentada ao teu lado no sofá, à tarde, sem mais ninguém na casa, ou se calhar, com os outros a dormir lá em cima. Dos teus espirros assustadores. Do chá de cidreira, sempre às cinco. Das histórias muito curtas de África. De me abrires a porta sempre que fugia assustada para dentro de casa, quando a Duquesa se soltava. De ver-te de costas, a moer a carne na banca de mármore, a preparar os teus inesquecíveis rissóis.Do cheiro na cozinha, nas escadas, da cera, do antigo, do tique-taque eterno do relógio. Dos comprimidos para o coração e do queixume conformado. Do sorriso nos teus olhos cinzentos, bonitos. Dos rôlos na cabeça, ao sábado de manhã. Das regueifas que trazias sempre. De abrires a porta da frente quando tocávamos à campainha lá ao fundo e ficares à nossa espera, até ao abraço. De perguntares sempre se tinhamos fome quando chegavamos. De mandares fazer o meu vestido azul. De me dares dinheiro quando me vinha embora. De me ralhares por causa das costas do Pedro, sem seres bruta. De seres vaidosa, como todas nós. De seres coquette à moda antiga e de te brilharem os olhos quando falavas de coisas femininas demais ainda para mim. De dizeres que o pai gostava muito de nós. De chorares quase sempre, só um bocadinho de nada. De seres amiga, apesar de tudo, e tanto, apesar do que não é importante. Um beijo para ti vó.

2 comentários:

Joana Gancho disse...

um beijo Silvia...

Silk disse...

obrigado Joana..