quarta-feira, fevereiro 07, 2007

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Sónia

Tenho saudades tuas. Há anos que tenho saudades tuas. Mas de vez em quando elas são mais fortes, mais sentidas. Hoje voltei a pensar em ti. Lembro-me sempre do teu sorriso, do teu último sorriso, naquele dia fatídico e triste e cinzento e chuvoso (ainda menos gosto da chuva que nos cai em cima desde então), aquele dia em que te perdi para sempre, depois de um último abraço, depois da nossa última conversa de que só eu guardo memória. Tenho saudades da tua ternura, da tua doçura, do teu olhar meigo. Tenho saudades de seres a minha grande amiga nestas paragens, de me abraçares, dos carinhos e das festas no cabelo, às vezes só de olhares para mim...tenho saudades de estares perto e de me apoiares com as tuas palavras sinceras. Hoje voltei a sonhar. E lembrei-me da tua família, da tua mana linda. De como me senti quando nos reencontrámos, como se tivesse abalado toda a gente só com a minha presença. Talvez isso me tenha feito recuar, parar...porque me tinha proposto a uma coisa e nunca o fiz. Hoje acordei e pensei nisso. Nas coisas que não fazemos e deviamos fazer. No amor que não partilhamos... E como tu sabias fazê-lo bem amiga, como sabias amar e mostrar-nos o teu amor, nesse jeito dengoso e especial, que tanta gente não tem mas tu tinhas. E quem te conheceu e foi teu amigo, sabe bem do que estou a falar, não há aqui exageros ou mitificações, eras assim. Como poderia não ter saudades? Como posso não sentir-me mal quando penso naquilo que devia fazer e não tenho feito?

O primeiro dia, o primeiro momento em que nos vimos, quando chegaste atrasada, com o cabelo molhado, e te sentaste paralelamente a mim, mas longe, que a sala era enorme. Entraste, cabisbaixa e embaraçada e tentaste não dar nas vistas....mas olhei para ti e sorri, achei um piadão ao cabelo molhado e ao ar meio aflito...de tal modo que foi a única vez que te vi um sorriso amarelo, quando olhaste na minha direcção. O primeiro, de dois únicos desentendimentos, mal nos conheciamos ainda, foste a correr em lágrimas para o quarto, quando te repreendi por não teres comprado os bilhetes que te pedi. Nunca mais te esqueceste disso, e quando alguém nos conhecia, contavas a história a sorrir para mim, fingindo um ar meio chateado, referindo o quanto eu fora bruta, e acabavas com a parte em que eu lá acabara por ir ter contigo ao quarto e te tinha pedido desculpas, admitindo a minha exagerada reacção. No fim rias, olhavas para mim com ar cúmplice e surgia logo ali um gesto meigo na minha direcção.
Sabias perdoar na medida da tua generosidade e amor, e isso era - a par da 'magia que encantava' a nossa amizade, reflectindo um entendimento quase perfeito - o que te tornava especial aos meus olhos.
Como poderia não sentir saudades?

2 comentários:

Красная звезда disse...

Muito bom, Silk.....estou comovido!!!

Como é possível não sentir saudades?

Um pouco de nós que se dilacera e um sentimento de uma perda que o tempo não apagou!

Os anjos são lindos e estão no céu!!!

Anónimo disse...

ela gostava de ti