sexta-feira, fevereiro 23, 2007

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[passaram 20 anos. fazes-nos falta. ainda. sempre.]


Fui à beira do mar

Ver o que lá havia
Ouvi uma voz cantar
Que ao longe me dizia
Ó cantador alegre
Que é da tua alegria
Tens tanto para andar
E a noite está tão fria
Desde então a lavrar
No meu peito a Alegria
Ouço alguém a bradar
Aproveita que é dia
Sentei-me a descansar
Enquanto amanhecia
Entre o céu e o mar
Uma proa rompia
Desde então a bater
No meu peito em segredo
Sinto uma voz dizer
Teima, teima sem medo


Zeca Afonso

4 comentários:

Anónimo disse...

Belos tempos quando sonhavamos em ser todos iguais... liberdade e libertação... mas pronto, passou, e voltámos à selva primordial, "e a noite nunca foi tão fria", diz o desencantado... "Nunca foi quente! Mas teima...", diz o demiurgo enquanto sorri de forma sádica... "teima", continua ele...

Anónimo disse...

"Por exemplo, o Zeca. Era homem de muitos tiques. Tiques disto e daquilo. Há vinte anos, não morreu por causa de nenhum, mas ainda hoje é recordado por ter sido um dos primeiros a cantar a liberdade em voz alta aos ouvidos de um povo, até então, troglodita, cavernoso. Tal como há trinta anos, a liberdade ainda hoje é um prodígio nebuloso para a maioria dos portugueses, uma coisa de ficção científica, uma incerteza, uma imprecisão ou um mal que o mundo deu à luz. E nós agora, com o bebé nos braços. Perceber isso era um dos talhes do Zeca para quem a felicidade resultaria da complexa ligadura entre liberdade, justiça, solidariedade e igualdade. As suas músicas estão repletas deles, dos seus tiques volvidos detalhes, prontos a serem colhidos como quem colhe laranjas da frondosa árvore no Inverno. Mas o principal tique de Zeca era saber e ousar dizê-lo a quem desconhecia ter asas. A quem esquece."
In Tenui Labor, ARV, 23.02.2007

kataklismo disse...

O que é um demiurgo? :/

Anónimo disse...

Um demiurgo é um... o criador