segunda-feira, março 05, 2007


antecipação

as almas que abandono tristes
os beijos que não deixei roubar
as palavras que esqueci de dizer
os abraços que não consegui dar

os sonhos que nunca sonhei
as coisas que não quis partilhar
os encontros que não procurei
os amores que não soube amar

os dias que não vivi
as plantas que não cuidei
as horas que apenas fiquei
os sorrisos que não sorri

os amigos a quem desencantei
as paixões que não deixei crescer
os momentos de que me fartei
as viagens que não pude fazer

as canções que não quis escutar
os livros que ficaram por ler
os desejos que não deixei escapar
as mentiras que me ouvi dizer

os gestos que não suportei
a intenção que nunca deixou de o ser
o silêncio que não te dei
os olhares que não quis entender

E o desejo,
o desejo último

E o saber,
esse saber
(do fim)

Salvam-me as folhas dos plátanos,
descem na brisa que me procura.
E eu estarei onde me encontro
com a espuma das ondas,
Na cor do entardecer.

Évora, Março 2007
.

2 comentários:

João disse...

bonito o que escreveste, parece que o escreveste como quem parte um muro em marretadas constantes e furiosas.
gosto de te "descobrir" no que leio (mesmo sem as conversas que nunca tivemos).
k.iss

Anónimo disse...

comecei com a frase "por cada alma que deixo triste.." e foi crescendo noutra direcção.
n esperava transmitir 'isso':) é engraçado como somos lidos, e como nos sentimos qdo escrevemos..coisas distintas, por vezes.
vamo-nos "descobrindo" K, eu gosto do que escreves no teu...