quarta-feira, maio 23, 2007

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disponível para amar



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A primeira vez que li o nome deste filme, na minha língua, fiquei fascinada. Achei-o belíssimo. Achei que teria de dar crédito aos tradutores de títulos de filmes, pessoas por quem não nutro particular admiração tendo em conta o panorama geral em Portugal. Mas este, bem, este fez-me acreditar. I believe..
É certo que provavelmente a tradução não seria difícil, em inglês por exemplo, o título é in the mood for love mas, o que me interessa mesmo, e aquilo que me despertou a atenção foi o que o título transporta, a sua sonoridade, a sugestão, a poesia, a intenção...está lá tudo. Disponível para amar.
Costumo brincar em trocadilhos com este título, usando-o em conversas: "disponível para amar (sabes?, ainda não estou...)" ou "estaremos disponiveis para amar, nós?" ou ainda "estás disponível para amar" ou simplesmente "disponível para amar, que será isso?".
A outros até pode sugerir algo menos melancólico, menos lírico: "Disponível para amar, com Barbara Hot Galore, o soft porno como nunca o viu!"
Mas eu não...eu é mais bolos.
E depois, ontem, sim ontem à noite, fui ver o filme. Ando há anos para o fazer. Nem sei bem porque nunca o fiz, não me recordo bem. Terá sido por recear que o filme não correspondesse à sensação gerada pelo título? Terá sido por falta de disponibilidade? Terá sido desleixo? Terá sido porque pensei que ia adormecer a meio? Pode nem ter sido nenhuma destas, ou podem ter sido todas.
Mas fui, e ainda bem que fui ontem, amanhã nunca se sabe onde podemos estar.
É um filme dos 'meus', está lá algo daquilo que eu poria lá também se me propusesse a realizar filmes, sim, está.
O par, dizem em todo o lado, vive um amor fantasma. Ok, e eu concordo. E acrescento apenas isto: há várias formas de amar, há várias disponibilidades para o amor, há inúmeras possibilidades da sua concretização, tal como inúmeras impossibilidades ainda que se ame, há a felicidade, também, sim, na impossibilidade, nas escolhas aparentemente paradoxais de cada ser humano (ou só de alguns seres humanos? etéreos fantasmas de si? etéreos fantasmas dos outros?), mas eu acredito nela, e acredito que este é um filme "feliz" ainda que nunca o par se tenha beijado, ainda que nunca tenham feito o amor, ainda que se toquem ao de leve apenas, ainda que se afastem.... isto foi o que Hong Kar-Wai me deu de perfeito, está na forma como me ofereceu este belíssimo filme: a sugestão. E o que é a vida, o amor, senão a sugestão da vida e do amor?
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9 comentários:

João disse...

é uma interpretação tão bem feita que passei a gostar um bocadinho mais do filme depois de ler as tuas palavras. mesmo assim, continuo a preferir o chungking express... é menos "sugestivo", menos angustiante, menos doloroso e mais dinâmico, divertido até...

Blackberry disse...

Bem Silvia, com esta descrição...não imaginas a vontade que tenho em ver o filme!!!! obrigada pelo alerta! beijos. E... é verdade, quando me fazes uma visita em Lisboa????

Anónimo disse...

Nunca vi esse, K.,...talvez seja sim. Mas olha, eu não achei este filme angustiante nem doloroso, mas lá está, cada um sente as coisas de modo diferente. Se arranjares esse empresta-me:)

BB, que não leves tantos anos para ver o filme, como eu levei:) Tenho-o lá em casa, se quiseres empresto-te. Mas vale a pena ver em ecrã de cinema, eu tive sorte, vi no cineclube de Évora.
Olha, boa pergunta:) Às tantas, e com o convite que tive ontem, ainda nos encontraremos em LX...as vezes que nos apetecer!hihi..;)

Anónimo disse...

Tb prefiro o chungking express - um dos filmes mais "soltos" que alguma vez vi...

G.Slade

Blackberry disse...

Silk my dear partilha cmg..... que convite foi esse!!!!!! tb quero.... ehehhe. sim, sim, empresta-me o filme, adorava ver...é que aqui em LX, no cinema, já n devo conseguir ver.

blindness disse...

Nunca vi o «chungking express», mas sou mais um fã do «disponível para amar». Quando o vi foi uma enorme lufada de ar fresco (no sentido cinematográfico), e adorei todo o contexto social em que as duas personagens principais se movem, até porque ele justifica uma grande parte da "relação" que elas mantêm no filme. Quem gostou deste filme, e correndo novamente o risco de não dar novidade nenhuma, não pode deixar de ver «2046», também do Wong Kar-Wai, onde se retoma (pelo menos em parte) a estória do personagem masculino do «disponível para amar». Pessoalmente não gostei tanto de «2046» como havia gostado do outro, mas ainda assim parece-me imprescindível. Durante muito tempo fiquei a pensar numa frase do filme, que talvez seja um bom "teaser" para aguçar a curiosidade de quem não viu: "Todas as recordações são rastros de lágrimas".

Cumprimentos a todos.

PS - Tenho ambos os filmes em dvd. Se precisarem de acesso a qualquer um deles, e à falta de melhor "solução", podemos utilizar o Pedro como intermediário. ;)

Silk disse...

sim, concordo que o contexto social (tb) condiciona o amor, aquele amor.
obrigado pela gentil oferta caro blindness.

blackberry, eu empresto-te, no cinema duvido muito que consigas apanhar alguma reposição.

João disse...

já que estamos nessa... tb tenho o "2046", posso partilhar... cumps a todos.

Anónimo disse...

oba!:)