terça-feira, julho 20, 2010

o que é nacional

é bom. também.

quando era miúda, lia bastante. porque não era rica e não tinha muitos brinquedos, talvez.
lia sobretudo autores anglo-saxónicos, livros que os meus pais lá tinham em casa, e cujo número aumentava consoante as trocas que o meu pai fazia com outros vendedores. ele era vendedor de livros. esteve em algumas editoras, e acontecia por hábito os vendedores das diferentes editoras, trocarem as novidades entre si. por isso havia tantos livros lá em casa. ora, a leitura foi condicionada pelas trocas, mas também aquisições do(s) meu(s) pai(s). passei pela escola, entenda-se secundário, a não ler os autores obrigatórios no programa de português. nunca me apetecia ler esses livros, chegava a casa e queria era ler os que lá tinha. Camões e Eça ficaram na gaveta. li as Viagens na minha Terra, talvez o único inteiro, de princípio ao fim, e pode bem ter sido porque me senti na obrigação de o fazer, vá lá, pelo menos um - ou porque se não o lesse, não conseguiria passar na disciplina? lembro-me do Eurico, o Presbitero e de como esse apelativo título me deixava paralisada das mãos. e dos olhos.
pois bem, eu ler lia, mas não lia autores portugueses. passei anos sem o fazer. depois do secundário, vieram os tempos de universitária e perdi-me em noitadas de borga e convívio, chegada à cama eu queria era dormir, e comecei a deixar de ler. lia cada vez menos. lia mesmo muito pouco. ao ponto de perder o hábito de pequenina, de ler sempre todos os dias. era como comer. era mesmo. mas deixou de ser.
com isso, os portugueses, os autores, ficaram ainda mais esquecidos. ou melhor, eu esquecer nunca esqueci, na verdade sempre pensei que iria ter tempo e vontade de pegar no Saramago, no Torga, na Sophia...no Eça.
mas os cinco anos de universidade deixaram-me inerte. até que um dia, chegaram os dias de melhor vontade, e comecei a ler autores portugueses, os nosso escritores...Lobo Antunes (não consegui), Sophia (quem não consegue?), Al Berto (umas coisitas), Herberto Helder (não estou ao nível e sou preguiçosa, os passos em volta que me ofereceram desapareceram da minha estante, não sei quem mos levou..), José Luís Peixoto, Nuno Júdice, Florbela Espanca, David Mourão-Ferreira (o amor feliz, tão bom), Mia Couto (nunca acabei nenhum), Gonçalo M. Tavares (li um tão pequenino, foi para me iniciar, e nem lembro o nome), Eça de Queiroz (li os Maias em 2009!!!), um cheirinho de Miguel Torga...basicamente, e tirando mais um brasileiro de que gosto bastante, Bernardo Carvalho e o Mia Couto e o Agualusa que espreitei, não li nada de jeito na minha própria língua. claro, ainda vou a tempo, se conseguir passar menos tempo na net ao serão. e reconhecer que só se vive uma vez com estes olhinhos que a Terra há-de absorver, e o melhor é fazer-me à estrada que se faz tarde. tudo isto para dizer que, obviamente, perdi muito por não ter lido autores portugueses quando ainda lia todos os dias e que agora que me sinto mais próxima da redenção, tenho a noção da enorme qualidade dos nossos autores e de como, obviamente, o que é nacional é tão bom quanto o estrangeiro.

passo já para a música, porque é aquilo que me trás aqui hoje: a nossa música. essa sempre ouvi, e gostei, mas de muito pouco, muito pouco. as minhas influências e gostos foram claramente marcados pela cultura literária e musical anglo-saxónica. eu era mais a pop britânica e norte-americana, o rock também. ainda hoje...mas hoje, sei bem o que se faz por cá e sei bem que a qualidade dos nossos músicos é boa, é muito boa.

Bernardo Sassetti e Aldina Duarte. e tenho dito. ou melhor, vou repetir: Bernardo Sassetti e Aldina Duarte. o primeiro já o vi em concerto, a segunda ainda não. o primeiro é brilhante, dispensa apresentações, basta clicar no you tube, ou no google e percebe-se. a segunda basta que se veja o documentário do Manuel Mozos, a princesa prometida. e chega para se perceber, também. estamos perante uma fadista emocionante e genuína. e o documentário é um mimo, e o autor é português. podia continuar aqui a descrever mais coisas, mas não vou fazê-lo. porque sei que não preciso. o que precisei foi de mostrar aqui a minha....nem sei como chamar-lhe.

anyway, nunca é tarde. e não há nada que se compare a um verso de um poema do Ramos Rosa, e como a sua leitura pode levar ao título de um blogue, dar-lhe o nome de um poema seu. e na nossa língua. nada que se compare. só talvez a entrega de Sassetti ao piano, ou do Burmester. ou mesmo a alma lusitana inteira na voz da Aldina e a sua força. ou ainda...

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