quinta-feira, maio 26, 2011

as coisas que eu vejo. as coisas que eu oiço

ok, o que eu vi foi isto: olhares, troca de olhares sérios, algo fatigados, de quem está a fazer cumprir o seu dever. foi isso, sim, que senti: estou a cumprir o meu dever, estou a cantar mais uma noite, estou a tocar isto pela enésima vez mas tem de ser. confesso a surpresa, por mim, porque senti isto, vi isto assim, por eles, que são uma das bandas que eu mais aprecio ouvir e não contava com esta leitura das suas expressões. depois fiquei muito atenta, quase nem estava a prestar atenção às músicas, ouvia e abria a boca para acompanhar mas toda eu era atenção para as expressões, as trocas de olhares dos gémeos. e quando o vocalista se aproximou mais, quando ficou mais próximo de mim e olhei bem para ele, para dentro do olhar vi alguém que não está a representar o tipo atormentado, como um jornalista o descreveu na crítica ao concerto, mas um tipo genuinamente atormentado, um tipo que ao ler Pessoa sentiria afinidade imediata. é verdade que fiquei de boquita entreaberta, tipo menina de 10 anos a olhar, ingénua, a olhar para o mundo como se ele fosse estranho e sem sentido ainda, afinal eles também se cansam, se calhar até se desconcentram por vezes, se calhar nem lhes apetece sempre ir trabalhar de manhã noite, olha que isto também é puxadote e cansa muito, pode mesmo até ser um frete, depende das marés. mistério. 
sei lá eu o que sentiam eles, o que pensavam eles e porquê esta mania de ver coisas, ver as coisas que eu vejo? que interessa? não sei. nem me interessa saber. mas são as coisas que vejo e que me ficam, mesmo depois de virem os sorrisos, aqueceram, nós ajudámos, estavamos ali muito atentos e a cantar tudo com eles, depois veio a boa disposição, as piadas curtas e trocas de palavras entre eles connosco a assistir e a não entender quase nada, a fingirmos que sim e a sorrirmos, porque gostamos deles e queriamos que eles gostassem de estar ali connosco. são profissionais, sim, são, não são cagões, nada e o gajo é mesmo assim, gosta de se embebedar. precisa de se embebedar. e depois? torce um bocado o corpo, parece que vai torto palco fora em direcção a nenhures mas aquilo faz parte dele, tem de ser assim. estamos todos ali por eles, por ele, a voz nem é das melhores para cantar ao vivo (eu gosto da voz do Matt), um gajo tem de se divertir e de se proteger, de inebriar a alma e cantar, cantar e tocar porque é assim que ganhamos a vida, menina. será bom ganhar assim a vida de terra em terra, de avião em avião, de hotel em hotel de bar em bar, de mar em mar, ir e voltar? e ver o "estamos cansados... mais uma noite, ora cá vai..." não ofusca o resto, aquilo que verdadeiramente pesa na balança, o sorriso e o brilho, it all turns out allright in the end, há empatia, é bom estar em palco, gostamos de tocar e tocamos bem e queremos tocar para vocês, por isso não ligues muito ao que vês, miúda, é mesmo assim, foca-te na música esquece o resto, que o resto não tem peso algum. pega lá a tua favorita, para nos despedir-mos de ti em grande, toma, é para ti:

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