quinta-feira, junho 14, 2012

...para não ser olvido

NUVEM

Não haverá uma só coisa que não seja
uma nuvem. São-no as catedrais
de vasta pedra e bíblicos cristais
que o tempo alisará. É-o a Odisseia,
que muda como o mar. Há algo de distinto
de cada vez que a abrimos. O reflexo
da tua cara já é outro no espelho
e o dia é um duvidoso labirinto.
Somos os que vão. A numerosa
nuvem que se desfaz no poente
é a nossa imagem. Incessantemente
a rosa converte-se noutra rosa.
És nuvem, és mar, és olvido.
És também aquilo que por ti foi perdido.

- Jorge Luis Borges
in Os Conjurados

1 comentário:

Os pecáveis disse...

Muito bom. Vou ter de começar a ler este senhor. Saúde.