quarta-feira, novembro 08, 2006

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A Estação

Deslocou-se sem pressas, vagarosamente pois. O rodopio em seu redor deixando um rasto de confusão. Mas não estava perdido. Por fim parou. Sentou-se.
Teve medo. Tanto. Deixou-se ficar por ali, só.
Teve tanto tempo. Minutos transformados em eternidade. Tempo de parar, de paragens. Ou, o tempo das ilações concretas.
Gente cirandando. Cheiros, ruído, doçura de um olhar. Desgaste.
Pensou por si, para si. Só, sentado no desconforto da rudeza dos materiais. A ilusão maior que a certeza.
Não teve companhia para compartilhar o espaço que ocupava. Recordou..Fechou-se para o mundo. De olhos semi-cerrados, recordou.
[jamais, naquele lugar se iria sentar..parar.]
O burburinho, o chiar de travões metálicos. Transformações imediatas pela sensação.
Tudo lhe veio. Suavemente. Invasão. Mente cansada e invadida.
Depois, sonolentamente, entreabriu os olhos: angustiante placidez.
E desconcerto.
Mas no seu rosto depressa se desenhou um sorriso suave, quase invisível.
Nunca fora um homem de certezas.
Morreu sozinho sentado na dureza que lhe oferecia o mundo, no meio do som da multidão atarefada, entranhando-se-lhe no corpo.

Morreu no som da multidão.
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2 comentários:

Anónimo disse...

...Não há direito de levarem um homem assim... Ao menos poderia ter chegado a ver os novos Alphas Pendulares e TGVs... Poderia ter mudado de opinião, quiçá?!... :)) bjos

Silk disse...

:)