quinta-feira, novembro 09, 2006

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O essencial, o necessário, o essencial..

Ontem coloquei a questão a mim mesma: "Vou fazer greve?". E coloquei-a porque não tinha uma decisão tomada, não estava claro na minha mente - como ainda não o está, parece-me.. - se era ou não uma ideia para levar avante. A hesitação está pendurada, é bom que o diga, essencialmente pelo fio do vil metal: um dia de greve é o equivalente a muitos euros em falta no orçamento já de si parco por estes dias. E é um fio forte, este, como se feito de aço.
Depois, bom, depois assolam-me outras ideias, menos práticas, são sobretudo princípios a que eu posso chamar ironicamente de Valores da Razão Não-Prática, e que fazem parte de mim. Não sei se nasceram comigo, se estão por cá à priori, mas sei que em determinada altura da minha vida eles foram crescendo e tornaram-se mais ou menos fortes, saudáveis, pareciam-me.
Um deles é o da Justiça - lutar por aquilo em que acredito, talvez mais até do que isto (acredito que 'as coisas devem ser justas', sempre) é importante para mim (e recorrente) a ideia de lutar por aquilo em que vale a pena acreditar.
O outro é o da Liberdade. A liberdade na escolha, a liberdade enquanto possibilidade de escolher, de optar por uma entre várias possibilidades, acima de tudo esta.
E a Dignidade. Mais um valor especial, talvez o mais importante para mim, pois que um homem pode perder tudo na vida, mas a sua dignidade....bom....a sua dignidade não.
Gostava de acreditar que ainda estão saudáveis, estes valores, dentro de mim. Que isto não anda tudo muito doente cá por dentro...
Como dizia, gostava de acreditar que são saudáveis, dentro de mim, onde cresceram ao longo dos anos espicaçados por um ambiente familiar e social propício, estes valores que admiro, de que preciso, que ainda quero na minha vida. E é nesta fase que surge a dúvida, quando tenho de escolher entre o 'valor' Dinheiro (esmagadoramente irredutível) e estes valores essenciais e tão mais necessários quanto o pão que se leva à boca todos os dias.Porque seria por eles que eu iria demonstrar que o primeiro é um valor de menor importância - ainda que esta demonstração, a forma de o fazer, possa estar moribunda e viciada, ainda é a melhor que conheço e que me oferece esta sociedade onde labuto - quando pressinto que estes estão ameaçados. Porque há muitas formas de um homem se sentir ameaçado e preso, e injustiçado e a perder indelevelmente a sua dignidade.
Amanhã é outro dia, até lá, vou exercer o meu direito de reflexão, vou hesitar entre o essencial e o necessário, e entre o necessário mas não essencial. E que me perdoe a minha consciência se não tiver a coragem para o fazer.
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3 comentários:

Anónimo disse...

A questão da greve pode ser vista de vários prismas, evocando vários valores, pessoalmente considero que a greve é a forma mais fácil de se reivindicar... Tão fácil quanto inútil, pelo menos no caso das greves da fp...

Por parte do trabalhador, 1 ou 2 dias de folga dão um jeitão!... Da parte do Estado "Patrão" também existe a perspectiva boa da coisa... Poupar uns cobres numa época de crise e recessão é tão bom!... E tão fácil... ;)

Conclusão, quem sai beneficiado?...

AMBAS as partes!!! A que folga e a que poupa!... Agora não me digam que estas greves da fp servem para mudar alguma coisa!... Nisso não acredito!

...Por isto tudo, como não me sinto a necessitar de folgas, tb não lhes dou o gostinho de pouparem comigo!!!... ;)

Só não perdi a esperança de qualquer dia ver o Sócrates a promover as greves… Os sindicatos que se cuidem!... 

bjos

Silk disse...

Unickymous....o que dizes faz sentido, não penses que sou ingénua e tb eu sei que os sindicatos, enfim...
Mas este texto é uma exposição romântica sobre a questão que para mim é fundamental...esse (o teu)é um modo muito prático e até bastante lógico de analisar a questão, não o posso negar. O meu, prende-se com algo mais abstracto e subjectivo, mas que se pode eventualmente materializar mediante uma forma mais ou menos 'institucional', ou seja, também ela prática, a acção, e realmente, pode ser uma grande merda e já quase ninguém acredita no poder das greves, ou das greves assim organizadas...mas é a merda que existe. E para mim, argumentos como o de uma colega que diz que esta greve não é dela (pq nem sequer é funcionária pública, embora trabalhe na F. Pública)são muito fraquinhos e uma forma de se esconder da realidade...e a realidade é que estes senhores estão a mexer em tudo como se fossemos coisas e não somos coisas. Não somos só números, somos pessoas, com família, com despesas, com necessidade de trabalhar condignamente sem estar sempre a ser o bode expiatório de uma crise que não passa só pela administração - catastrófica em muitos casos, tem de ser alterada, lá isso tem - pública. Uma greve para mim não significa apenas o 'alterar alguma coisa'. Significa acreditar que as coisas podem mudar.
Porque as coisas mudam e tu também sabes isso. O que eu sinto é que mais vale uma greve em que uns poupam e outros não poupam....do que achar que nunca as coisas vão mudar. Se amanhã, e hoje, a maioria dos F. Públicos fizessem greve, nada me diz que o Sócrates iria ficar indiferente.Mas respeito muito a tua opinião, embora discorde dela. Há uma coisa que me deixa verdadeiramente inquieta nos tempos que correm: a apatia. A minha, a nossa, a de todos nós....isso sim, preocupa-me. Esta costela política já vem da infância, nada a fazer, pelo que cidadãos apáticos - onde me incluo, pois afinal ainda hesito muito com muita coisa - numa sociedade conformada....assusta-me um bocado.
E... eu devia era ir para casa regar as plantas e fazer o jantar e borrifar-me para esta treta toda, diria alguém sensato:):)
But I can't....it's in my blood. I hope....;)

Anónimo disse...

Nunca disse que não sou a favor de reivindicações... apenas disse que as greves não servem para nada e reforço, sobretudo na fp...

E o facto é k nao servem!... mesmo k tudo estivesse mto bem organizado, que não está, e mesmo que tds fizessem greve, isto ficaria na mesma!!!...

Agora, existem as revoluções... lol