domingo, junho 20, 2010

o cinema paraíso nas matinés cinéfilas

Pode parecer suspeito, mas confesso que o ponto alto do meu fim de semana foi ter ído ao Redondo este Domigo assistir pela primeira vez a uma matiné cinéfila. Isto foi decidido ainda durante a semana. Eu já conhecia e sabia do sucesso das matinés cinéfilas do Redondo (ou de Redondo), que ecos positivos há algum tempo me chegavam dessas paragens e da ideia da Paula Soares e do Takis. Oferecem à população e interessados no geral, no espaço fabuloso que é o do Centro Cultural do Redondo, sessões de cinema um pouco diferentes, aos Domingos à tarde.

Percebi há pouco, falando com o Takis, que a ideia foi a de trazer alguém ligado aos filmes exibidos, de preferência, ou alguém que não estando directamente ligado aos mesmos, participasse na tertúlia que sucede ao visionamento.
Trata-se de um projecto de amantes de cinema para todos os curiosos que gostem de assistir a bons filmes e/ou participar numa boa conversa em redor dos mesmos, pelo que entendi. Uma coisa informal. A mim há muito despertara o interesse em dar uma espreitadela, e de tanto adiar, hoje lá fui. Entusiasmada.

O filme desta matiné foi o Cinema Paraíso, de Tornatore. Melhor do que rever esta belíssíma e consensual película, era difícil. Não disse a ninguém se gostaria de me acompanhar, por dois motivos:
1- queria ir sozinha
2- duvidei que alguém estivesse disposto a percorrer 33 km até ao Redondo, numa amena tarde de Verão (começa amanhã, mas..), "só" para rever o Cinema Paraíso.
Posto isto, aguardei pela tarde de hoje como os miúdos que sabem que vão à praia ou que os pais lhes vão comprar o par de ténis tão desejado (ok, não foi com tanta intensidade, há um certo exagero nas minhas palavritas mas, foi mesmo o ponto alto do meu fim de semana e este nem foi sossegado...) e pelas 15:30h rumei ao Redondo. A viagem foi também aprazível para o espírito, inquieto , triste, não infeliz, com laivos de serenidade até, e ainda que a Primavera tenha gentilmente cedido a sua posição ao colega Verão, não deixou de me apaziguar a vista das searas alouradas pelo sol e acariciadas na brisa meiga...dia perfeito de Verão, fossem muitos assim os que estão para vir.
O mau momento da tarde aconteceu quando me transformei numa assassína a sangue frio, por força das Universais Leis do Acaso um pássaro voou no minha direcção e eu voei na dele, desgraçado...o meu carro foi demais para o bicho e a minha consciência ainda me pesou. Não tive tempo de nada, excepto matá-lo.

Cheguei ao Redondo right on time, mas antes disso, horas antes, não deu para ler tudo o que queria sobre Saramago no jornal de ontem. Não deu para ver a exposição de fotografia turca que só fica até dia 27, não deu para aspirar a casa e arrumar a restante roupa de Inverno, não deu para um café com um amigo disponível, não deu para ficar em casa a ler os 5 livros que ando a ler arrastadamente. Mas deu para ir às matinés cinéfilas do Redondo. É curioso, mas não me lembrava das últimas cenas do filme, o reencontro de Salvatore e de Elena, por exemplo...terei eu visto o filme, ou sonhei que o vi? A quantas coisas ou situações vi eu acontecer-me confundir o real com o imaginado? Algumas, por estranho que pareça.

Bem, o certo é isto: o filme que vi, ou revi, foi novo para mim. Desta vez vi uma obra-prima. Um filme especial, eu digo. Toca em tudo - amizade, amor, carreira, o cinema e o amor ao cinema.. Chorei, mas chorei à séria em algumas cenas e senti-me embaraçada porque no fim a minha cara iria estar uma boa coisa. Estava menos mal, creio. Mas reitero que desta vez vi uma obra-prima, e sei que filmes destes não se fazem muitos. Genuíno.

Takis ainda puxou por nós no fim, mas algumas das poucas senhora da terra que tinham ído à matiné, foram-se embora pouco depois...provavelmente os maridos ou os filhos aguardavam-nas para retomarem as suas posições no lar, mas todos concordámos na emoção que o filme transpõe, parece que todos chorámos, a dada altura, e eu senti-me menos piegas. Mais tarde, e chegada a Évora, percebi que estava com o período. Right.

Mas, aquilo que pretendo aqui deixar, talvez a mais emotiva cena da tarde, senão sentida na pele pelo menos no intelecto, foi quando a dada altura do filme me apercebo que há uma senhora idosa, sentada com mais um casal de idosos, que vai lendo incansavelmente as legendas do filme (longo, longo...) em voz alta, muito discretamente, aos outros dois. Os senhores eram analfabetos. Quando eu me apercebi, enlevou-se a minha alma. O amor e a generosidade que tanto procuramos está aqui, nas acções sacrificiais de humanidade que damos na direcção do outro, pelo outro, com o outro. Nessa altura, devo ter chegado à parte do filme em que chorar me fez doer um bocadinho o peito e sorrir ao mesmo tempo.

3 comentários:

Blackberry disse...

Bem...tenho o cinema paraíso por aqui. Em VHS! quem diria. Vou vê-lo outra vez, infelizmente não no\em Redondo :) um beijo

Silk disse...

BB, já saudava esse sorriso, havemos de marcar algo em Lx. beijocas

Blackberry disse...

Sim isso!