sexta-feira, novembro 16, 2007

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Estava pensativo, de olhar posto na cor da noite, lá fora, onde os carros e as luzes se cruzavam com o som dos pássaros que fugiam para longe dali, escurecia rapidamente.
"- Nem tu sabes...é um bocado barra pesada lá dentro, passas por eles e sentes-te intimidado, o ambiente é pesado, um desconforto crescente, como se a qualquer momento qualquer coisa de incontrolável fosse acontecer, não aconteceu...fiquei pouco à vontade, ali...".
Ele pensou uma imagem clara dos rostos e dos olhares, do ambiente nas ruas, depois a Sul, o deserto, infinito, polvilhado de roulotes, pré-fabricados aqui e ali com pic-ups caras estacionadas cá fora, os grandes cactos estendo-se até ao céu de pôr-do-sol de filme...ficou com dúvidas, no entanto.
"- Vês aquela droga toda a circular, sente-la nos olhos deles pousados em ti, é estranho, é tanta e deprime-te, encostam-se pelas ruas, onde calha, reina uma calma aparente, não trabalham, nota-se bem isso, a maioria, os subsídios vão chegando, alguns têm quintas, claro, muito poucos, mais a sul nas terras inóspitas, os grandes terrenos que lhes 'deram' para ali se instalarem, provavelmente não chove há meses, parece que nada ali irá crescer, é estranho".
A noite acomodou-se e ele de olhar absorto num ponto mais sujo do vidro da janela, um satélite, um planeta, um bocado de estrela, um buraco negro ali pousado, divagou até ao Norte, até ao Sul, imaginou um feroz silêncio de subsídios compensado, gente atenta mas distante, ancorados num tempo que não era já o seu, demasiado sufocados para sonhar um destino. Apodreciam na sombra, sujavam o chão, apenas, já não eram um estorvo.
E até onde uma realidade mais plausível que o real descrito, poderia ser o exagero dela?
Ele não sabia.
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1 comentário:

1% disse...

estás a apurar mana, sim senhor!...